A sedução das borbulhas…
Outro dia em um gostoso almoço no Zain com harmonização de vinhos importados pela Mistral que a Karen Lisa organizou, eu tive a oportunidade de conversar com minha Amiga Mari Mallemont que escreve sobre lifestyle, viagens e comidas, acho que você deve conhecer. Bem, nós conversamos bastante sobre Champagne e tipos de espumantes e ela me sugeriu que fizesse um post sobre isso, dando um panorama desse tema. Então aqui está…
Mari Mallemont
Existem diversos tipos de vinhos com borbulhas, sejam elas super pequeninas como as de alguns vinhos verdes, que os portugueses chamam de vinho com “agulha” em referência a sensação desses vinhos em nossa boca, até os espumantes de dupla fermentação.
“Agulha” no Vinho Verde
Antigamente essas pequeníssimas borbulhas desses vinhos verdes eram naturais de seu processo que incluía a colheita um tanto precoce e um engarrafamento idem, para abastecer o mercado, que geravam um finalzinho de fermentação na garrafa, hoje esse mínimo gás carbônico é adicionado no engarrafamento, lamentavelmente. Aliás lamentável também é o abandono desse estilo de vinho na região, pois era marca registrada e um diferencial único que hoje praticamente acabou. Acho um erro e digo sempre que posso…
Outro tema que fez parte de nossa conversa foi o método ancestral, hoje em moda com o nome de “pet nat” abreviatura de “péttilant naturel”.
Pet-Nat ou Método Ancestral
Esse método é considerado o mais antigo do Mundo em termos de vinho espumante e teria sido descoberto em 1531 na Abadia de Saint-Hillaire, em Limoux, pelos monges beneditino, no sudoeste da França, que produziram um espumante, que passou a ser conhecido como Blanquette de Limoux. Blanquete (branquinha) pois a flor da uva Mouzac com a qual faziam o espumante é branquinha e comum na região, então era a branquinha de Limoux.
Bem, o processo é bem simples, basta você engarrafar seu vinho antes que ele termine totalmente a fermentação. Como se sabe, a fermentação é a ação das leveduras se alimentando do açúcar da uva e transformando esse açúcar em álcool. Esse processo gera gás carbônico que evapora, assim, se você engarrafar esse vinho antes desse processo terminar, o gás carbônico ficará preso na garrafa junto com o vinho. Claro que é preciso saber o momento certo desse engarrafamento, pois se for antes da hora as garrafas vão estourar com a pressão do gás carbônico, se for muito depois o vinho ficará sem o pérlage, nome francês das bolhinhas de gás carbônico… o vinho obviamente não tem filtração o que lhe confere um toque de rusticidade e garante uma interessante evolução por conta desse residual de sedimentos.
Abadia de Sait Hilaire
Interessante saber que esse método é bastante anterior a Don Pérignon, conhecido como o descobridor do vinho espumante de Champagne. Champagne na verdade tem o processo de dupla fermentação. Depois de um vinho pronto, você acrescenta leveduras nele e coloca-o para re-fermentar criando assim as borbulhas. O grande mérito porém do monge famoso foi o estudo de assemblage (mistura de uvas), para a qualidade final do espumante.
Aliás nunca diga a Champagne, mas o Champagne por tratar-se de um vinho espumante. A Champagne é a região onde se produz o Champagne.
Essa nossa conversa começou por que a Mari Mallemont me perguntou qual teria sido o melhor Champagne que eu já havia provado e eu imediatamente disse que isso era impossível de responder, ao menos em relação a qualidade do espumante não ao momento, claro… Me vieram a cabeça imediatamente a Salon, a Jacques Selosse, a Egly-Ouriet entre tantas outras mas preferi não dizer, a conversa seguiu para a diversidade delas, não apenas Champagne, mas Franciacorta, Trento, Cava, Espumantes da Bairrada… uma diversidade incrível de espumantes maravilhosos, inclusive brasileiros.
Tem aquela história de degustação às cegas de Champagne onde havia um intruso e alguém comentou, quando você tiver certeza de que é um Champagne é por que é Franciacorta…, tal a semelhança entre eles… hahahahahaaa.
Pagliari e Didú
Falamos então sobre a idade delas e comentei como os vinhos com a idade ficam tão mais interessante, citei a experiência na casa do meu Amigo José Luiz Giorgi Pagliari quando ele abriu uma garrafa com muita idade, por volta de uns 60 anos por aí, de uma Pomery e que não havia mais pérlage, mas o vinho estava espesso, cremoso, sedutor, uma outra bebida com um nariz super complexo de flores murchas, absolutamente encantador.
Defendo por gosto pessoal os vinhos evoluídos, especialmente os brancos que se transformam magnificamente secondo me. São como nós, perdemos aquele frescor da juventude mas ganhamos muito na sedutora complexidade da maturidade.
Bem, há muito a falar sobre esse tema e não quero fazer um post tão longo, promessa cumprida Mari Mallemont, prometo voltar ao tema… Saúde.