A Carménère
A casta Carménère é um pouco do tipo ame-a ou deixe-a. Há pessoas que adoram a Carménère e outras que torcem o nariz. Ela é originária da região de Bordeaux, na França. Onde inclusive fazia parte do corte bordalês, antes ainda da Cabernet Sauvignon que surgiu no século XIX, a Merlot surgiu no século seguinte.
`A época inclusive a Carménère era chamada de Grand Vidure. Como a Cabernet Sauvignon era a Vidure e a Cabernet Franc era a Petit Vidure… curioso não?
Acontece que por volta de 1875 a *Philoxera devastou as vinhas de Bordeaux e quando voltaram a cultivar vinhas já enxertadas com mudas de vinhas americanas, decidiu-se abrir mão da Carménère, priorizando a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Cabernet Franc e a Petit Verdot.
A casta ficou meio que abandonada, foi sendo esquecida, embora sempre existiram vinhedos de Carménère tanto na França como na Itália, mas de certo modo ela era dada como uma casta perdida.
Por uma das coincidências da história, uns cinquenta anos antes do surgimento da Philoxera Vastatrix, o Chile havia decidido dar um “up grade” em seus vinhedos e importou milhares de mudas de castas de Bordeaux. Inclusive, foi o Chile quem socorreu a França com mudas de suas próprias videiras depois da praga.
Mas no Chile a Carménère estava perdida entre mudas de merlot, espalhadas pelo país. Elas meio que se parecem, embora a Carménère amadureça cerca de quinze dias depois da Merlot.
Até que um belo dia, em 24 de novembro ano de 1994, a visita de um ampelógrafo, profissional que estuda plantas, de nome Jean Michel Boursiquot, visitando um vinhedo no Chile, identifica a tal casta perdida de Bordeaux…
Esse vinhedo existe ainda hoje, é da Viña Carmen que hoje pertence a Viña Santa Rita e quando estive lá a convite do Pão de Açúcar, visitei esse vinhedo que está sendo replantado exatamente como era na ocasião, espero que saia um vinho com essa mescla original para sabermos como era… Eu gravei um vídeo que vale ver.
O Vinhedo da Viña Carmen onde foi encontrada a Carménère
Bem, esse fato da redescoberta da Carménère, motivou o Chile a incentivar o seu cultivo, pensando em ter uma casta emblemática como a Malbec é para os Argentinos ou a Tannat para o uruguayos, porém é consenso entre apreciadores de vinho que a Cabernet Sauvignon seja mais emblemática para o país. Não esquecendo dos excepcionais vinhos de Syrah, de Cinsault de Carignan e de Pais que o Chile produz… na minha opinião, todos a frente da Carménère.
A Carménère tem um desafio para o enólogo que é o memento de sua colheita, tem que estar no ponto certo de maturação fenólica (quando sementes, polpa e casca estão maduros), para evitar o que chamam de “Pirazina” que se caracteriza por um intenso aroma de pimentão verde. Porém se passa do ponto perde acidez. Por tanto é trabalhosa.
Quando colhida no momento exato, ela tem profundidade e frescor que lembram aromas de frutas negras maduras — como ameixas e cerejas —, de pimenta preta, de herbáceos e de terra úmida de azeitonas.
Os bons vinhos produzidos à base dessa uva e há diversos, são elegantes, bem estruturados, possuem coloração escura, profunda e contam com sabores aveludados, sedosos e marcantes e potencial de guarda.
Na boca, costumam apresentar taninos mais macios que a Cabernet Sauvignon, mas não mostram a maciez da Merlot.
Didú e Sergio Reyes em Live sobre a Carménère
Outro dia conversei pelo Instagram com meu amigo Sergio Reyes da Fox Wines, que inclusive produz um bom Carménère chamado Quereu e ele contou muita coisa bacana sobre essa casta, vale você assistir, a conexão caiu bastante mas eu salvei três momentos para você, veja a Aqui, Aqui e Aqui.
Algumas garrafas que selecionei para você dentro de uma faixa de preço que não machuca o bolso, para você conhecer a casta:
Quereu Carménère R$ 68,00
O Viña Carmen R$ 95,50
O Trampolin Carménère R$ 61,00
Terra Andina R$ 59,12
*Philoxera
*A praga da Philoxera Vastatrix, um inseto tipo uma mosca grande que colocava seus ovos nas videiras e quando as larvas apareciam, elas desciam pelo caule das videiras e no solo elas atacavam as raízes da videira, seccionando essas raízes.
A Philoxera Vastatrix dizimou os vinhedos da Europa, até que se encontrasse a solução que foi enxertar as vinhas em raízes de vinhas americanas, que resistiam ao ataque da praga.
Aqui duas curiosidades sobre a Philoxera vastatrix:
Uma é que ela morre por afogamento, vi isso na Argentina em vinhedos da Terrazas de Los Andes, quando o famoso enólogo Roberto De La Mota trabalhava lá. Eles cavavam valas entre as fileiras de vinhas atacadas pela praga e enchiam de água, deixavam alguns dias e assim conseguiam vence-la. Foi uma surpresa para mim ter visto isso.
A outra curiosidade, e essa é uma pegadinha para experts, é por que razão as vinhas americanas não sofrem com a Philoxera? Pois eu vou lhe contar, as vinhas de vitis-viníferas quando têm as suas raízes seccionadas pela praga, elas não reagem, secam, e morrem. Porém as raízes das vitis-labruscasa, as americanas, quando são seccionadas pela Philoxera, imediatamente criam novas raízes acima desse corte, de forma que se fortalecem e suplantam a necessidade de alimentação da Philoxera, que na verdade acaba por fortalecer suas raízes…