Leda e Cabral, Anfitriões com “A” maiúsculo.
Cabral, Nazira, Leda e Didú
Outro dia, após inúmeras tentativas desse encontro que as agendas cismavam em protelar, finalmente aconteceu nosso almoço na casa do Cabral. Para vocês terem uma idéia, era uma retribuição de um outro encontro que tivemos na minha casa, a anterior a esta em que vivo já há dez anos!…
A argola de guardanapos. Charm, delicadeza e bom gosto.
Mas aconteceu finalmente. O casal Leda e Cabral, aleem de serem ótimo papo e uma simpatia, recebem como poucos. O Cabral além do Porto tem paixão também por mesas, etiqueta, cerimonial e então a nossa mesa era digna de foto de revista. Tudo combinando, o susplat com a toalha, com os pratos, tudo.
Começamos com este Canard-Duchêne Demi-Sec e nos sentamos para uma gostosa e aconchegante sopa de legumes com músculo que a Leda caprichou. Com muita insistência consegui ajudar a retirar pratos da mesa e levar para a copa… o casal a exemplo dos europeus, fazem tudo sozinhos.
O gostoso e evoluído Albariño, veio acompanhar um Bacalhau feito pelo casal e servido numa cocotte elegante. Como vinha do forno, aproveitei para espertamente abusar do albariño enquanto Cabral nos deliciava com piadas sobre comidas quentes…
Nós tínhamos um compromisso inesperado, a festa junina dos netos mais novos do Cabral e Leda, que como todos avós são corujas… basta ver o que eles têm na porta de entrada da casa… e acontece que eles confundiram as datas de nosso encontro e da festa e por nossa intimidade acabaram por acomodar tudo.
Então combinamos que haveria uma pausa entre o almoço e a sobremesa com o Porto, claro… Assim fizemos. Havia num Decanter lindo, uma garrafa do delicioso Quinta das Tecedeiras, que tive o prazer de visitar anos atrás.
Ele vinha acompanhar um prato excepcional, como se precisasse, que o casal preparou, um Linguini com molho creme de Queijo da Serra e ainda um tournedeau que estava dos Deuses… não desfazendo do Bacalhau claro, do qual raspei a cocotte…
Bem… hora do intervalo para assistir aos netos dançarem… Nada dá mais alegria a um avô, sei disso. Fomos com prazer e alegrou nosso dia.
Voltamos para um desfile de sorvetes e um Porto Marta 10 anos que nos aguardava tranquilo em seu belo decanter e do qual repetimos e a Nazira se encarregou de abate-lo…
A conversa rolava, casos, Vinho do Porto, claro, condecorações, arquivos, coleções e muita história.
Eu já disse várias vezes e repito aqui que deveria ser simplesmente proibido se fazer qualquer encontro, palestra, degustação, jantar, sobre Vinho do Porto, sem a presença do Carlos Cabral.
Sua importância e seus méritos nesse tema são simplesmente admiráveis. Primeiro brasileiro a ser convidado a Confrade da Confraria do Vinho do Porto de Portugal, Primeiro brasileiro a ser guindado ao grau de Infanção na mesma Confraria. Acima disso só os cargos oferecidos a chefes de Estado.
Entre seus diversos livros, Cabral tem um Dicionário do Vinho do Porto, de sua autoria com seu amigo Manuel Pintão. Um espetáculo. Sua casa é como que um santuário a essa bebida que é sua paixão. E o Cabral é também Comendador!!
Sua coleção de rótulos é um capítulo à parte, pois são mais de cinco mil rótulos e todos com história e explicações!
Temas inusitados, gafes internacionais, curiosidades, história que não acaba mais… O Cabral para vocês terem uma idéia, conhece tanto do assunto e das famílias que é comum ele encontrar alguém e contar episódios sobre os pais, tios ou avós dos proprietários das quintas, que eles mesmos não sabiam…
Não é para menos, foi amigo pessoal do Sr. Fernando Nicolau de Almeida e do Sr. Jose Antonio Ramos Pinto Rosas, pai do Jorge Rosas (atual Pres. Ramos Pinto). Dessa famosa marca então o que o Cabral tem é inacreditável. Basta ver estas abotoaduras, que vinham como um presente para quem comprasse uma caixa do Vinho…
Os dois quartos e mais sua sala de visitas, são um verdadeiro monumento ao Vinho do Porto, com livros, documentos raros, fatos históricos, garrafas, rótulos, etc., etc…
Que dia agradável e saudoso Amigos Leda e Cabral. Grazie!!
Para terminar preciso contar para vocês duas histórias que comprovam aquele ditado que diz que atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher…
Todos os livros do Cabral foram escritos por ele à mão. mas foi a Leda quem digitou tudo no computador!… A outra história mostra sua competência e é muito engraçada.
Em uma degustação às cegas em Portugal, só com craques do Vinho do Porto, a Leda estava junto com o Cabral degustando quando o garçom quis retirar algumas taças para servir outras, a Leda então segura uma das taças e diz: ” Por favor pode deixar este Poças 10 anos?.. ”
Nossa! Ficou todo mundo mudo, quem se atreveria a sentenciar isso numa degustação às cegas de diversos Portos? Pois o Presidente da mesa pede ao garçom para trazer a garrafa da amostra a que a Leda se referia e qual não é a surpresa de todos ao saberem que era o Poças 10 anos!… Hahahahaaaa Sensacional. Isso é que é moral…
Vida longa ao casal Leda e Cabral!!!
E eu já ia me esquecendo…
A taça oficial de Vinho do Porto, desenvolvida pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, é maravilhosa e tem uma depressão na sua haste.
Eu sempre quis saber qual a razão daquela pequena marca na haste, seria para encaixar o dedo indicador ou o polegar?… Pois o Cabral, me tirou essa dúvida. É para o Polegar! E posou para a foto.
Um detalhe que ele me contou, deu o maior trabalho executar a taça pois o cálice é de cristal, porém a haste de vidro, pois o cristal não permite o tipo de chanfrado criado pelo famoso arquiteto, que ainda é vivo. Então a haste e o pé da taça são de vidro… Vivendo e aprendendo. Sempre.