Vitivinicultura brasileira acordando
Tive o prazer de estar hoje no Di Paolo na unidade de São Paulo em Pinheiros, no almoço degustação organizado pela minha Amiga Alessandra Casolatto da CH2A, para saber das novidades dos irmãos Gustavo e Diego Bertolini, donos da vinícola Manus.
Pois foi a primeira vez que ouvi um produtor brasileiro falar em estudo de solo, em calicatas, em composição, umidade, composição quimica, etc. PRIMEIRA VEZ. Sempre me chamou a atenção o fato da displiscência dos produtores brasileiros com isso. Para o Amigo leitor ter uma idéia, o profissional mais renomado no Mundo com o trabalho de calicatas (buracos feitos nos vinhedos identificando diferenças de sub-solo para definiçnao exata de aptidão para determinadas castas), que é o Pedro Parra, homem que já perfurou cerca de 50 mil calicatas!!!! Nunca fez uma calicata se quer no Brasil. NUNCA. Vocês podem acreditar nisso?
Bem, hoje, fiquei esperançoso com relação a seriedade e conhecimento do solo com o trabalho que os irmãos Bertolini que produzem uvas há anos e muitos dos vinhos artesanais que você provavelmente já provou e gostou as uvas eram deles. Bem, de uns anos para cá começaram a produzir o próprio vinho e a estudar seu solo com o apoio da Embrapa.
Neste momento eles fizeram 16 calicatas e descobriram muita coisa que não sabiam, o que resultará provavelmente em remanejo de castas nesses micro terroirs que são os “Climat” como dizem os borgonheses que sabem mais desse assunto do que nós… Mas em paralelo eles e Embrapa conseguiram identificar leveduras tipicas de seus vinhedos e inocula-las e neste momento estão fazendo experiências de rumos a seguir.
Hoje nós provamos lado a lado dois Chardonnay, dois Alvarinho, dois Pinot Noir, todos sendo uma amostra com leveduras que buscavam o perfil da origem e os segundos com as suas leveduras locais. Gratíssima surpresa. Eu gostei mais das segundas amostras. É bem aquela coisa, você toma o Pinot Noir de levedura adicionada e percebe que ele tem bem a tipicidade da casta. O segundo, também é Pinot Noir, mas com sotaque daqui, sabe?
E isso se repetiu nos tres vinhos. A pergunta é a seguinte: O consumidor está pronto para degustar sinceridade, autenticidade, terroir daqui? Ou não? Eu particularmente quero sempre conhecer o que um vinho me oferece como representante do local, detesto gente que muda a voz ao atender o telefone… hahahahahaaaaaa mas sei que o mercado não é assim, apenas uma pequena parcela de apreciadores traquejados que têm a humildade de aprender com o vinho local, artesanal, sincero, e não analisar do alto de sua sabedoria conforme a roda de aromas de 50 anos atras que retratava a tipicidade das uvas em sua origem.
O caminho é longo e eles estão ainda construindo sua vinícola, hoje seus 17 rótulos são vinificados fora, e não vêm a hora de partirem para as fermentações espontâneas sem nada de adições… Bem, eu também não vejo a hora de saber o resultado disso. Por enquanto ficam os meus parabéns e respeito pelo empenho no caminho que mais me agrada.
Não posso deixar de destacar ainda o delicioso Nebbiolo Manus ainda com leveduras adicionadas, da safra 2021 que estava de suspirar…
Ah… estava esquecendo, eles contam com a consultoria da craque Monica Rossetti e seus vinhos são comercializados apenas no B2B, ou seja nada de consumidor final. Então procure os rótulos Manus em lojas especializadas de vinhos e em restaurantes que sabem das coisas e valorizam os bons e sinceros vinhos artesanais brasileiros como o Esther Roff Top do Benoit Maturan. Saúde!