Vinho e Teatro
Ontem eu fui assistir ao espetáculo Memórias do Vinho com os ótimos e traquejados atores Herson Capri e Caio Blat, no elegante e bem estruturado Teatro Vivo. super Show.
Tive como companhia a querida Amiga Luiza Portela do Wineshure no Instagram. Bem, entre várias observações, a que mais me chamou a atenção foi ver que os dois atores realmente não são consumidores de vinho, ao menos não regularmente e com interesse…
A peça se passa em uma adega de um falido granfino, em um encontro com seu filho que há anos morava na Austrália. Ambos estão quebrados e o bacana da peça é justamente o reencontro de Pai e Filho e suas diferenças e pendências mútuas.
Mas não quero estragar o enredo e sugiro que vá assistir pois no total foi agradável. Porém, é impossível para alguém que vive nesse mundo há trinta anos e vindo do mundo do Marketing e comunicação, não se incomodar com os seguintes aspectos;
A peça tem apoio de duas empresas ligadas ao vinho, L’Art du Vin e Grand Cru, mas ao chegar com antecedência no bar do Teatro justamente para degustar um vinho, não havia qualquer ação por parte desses apoiadores. Uma oportunidade perdida que para mim não tem justificativa. Lamentei.
A primeira surpresa, que constatei o que escrevi acima de que os atores não são consumidores de vinho é que o filho traz para o Pai uma garrafa de “um vinho australiano caro”, para eles comemorarem o encontro. Mas o saca-rolhas que ele usa é aquele da tia do interior que abre os braços para cima enquanto a espiral perfura a rolha… Ora, mesmo a produção e direção não terem se preocupado com uma pequena assessoria do setor, qualquer consumidor de vinho um pouquinho traquejado sabe que esse tipo de saca-rolhas nunca frequentou uma adega de um granfino… coisa que os próprios atores poderiam ter notado.
O Pai que era um aficcionado no tema e tinha uma adega milionária, que o filho imaginava vender para salvar a ruina deles, ao avaliar o vinho, não conseguia girar direito a taça e ao descrever os aromas do cabernet/shiraz australiano descreve aromas de alcaçuz (?!?!)…
Mais a frente o Pai abre o jogo com o filho e conta que havia vendido toda sua milionária adega, mas que tinha salvado uma garrafa especialíssima, que havia ganho do sogro ao casar-se e que tinha sido a razão dele se apaixonar pelo vinho e montar a enorme e milionária coleção, era um Chateau Margaux 1945 !!! E então ele me aparece com uma garrafa de modelo borgonhês… Madonna mia!!!! Não pode não?… hahahahahahaa mas a coisa ainda piora pois o filho resolve abrir a garrafa para brindar o encontro e dane-se tudo, e então aquele rapaz que foi criado na riqueza, na nobreza de uma grande adega de vinhos, não tinha a cultura da abertura de um vinho com idade e abriu a garrafa com o mesmo saca-rolhas !?!?!…
Então o “chatododidu” se pergunta:
Ninguém viu isso? Os apoiadores que são do setor não assistiram a peça? A direção e produção da peça não pensou em chamar alguém do setor do vinho para assessorá-los? E depois, por que os apoiadores não aproveitam a peça para promover seus produtos, fazer degustação, etc.?