Carter Mollenhauer – Música para meus ouvidos…
Ontem foi um dia especial para mim. Primeiro motivo foi rever meu querido Amigo Luiz Horta, dono do melhor texto do jornalismo do vinho ever…, depois de longo tempo de reclusão…
Ele ainda estava meio fora de forma, desconfortável, mas foi o convite do Avi Flaksberg, da SetWines, que o motivou.
A razão eram os deliciosos, puros, sinceros vinhos que saem do trabalho dedicado e apaixonado do Edgar Carter. O Luiz já conhecia alguns e insistiu que eu fosse. O Avi fez a gentileza de enviar Uber , pois soube que estava sem carro (bati na Raposo… distração, mas não aconteceu nada além de despesas com o conserto), muito gentil e generoso, agradeço. Assim fomos lá e nos divertimos como em outras épocas.
Confesso que meus melhores companheiros de degustação foram o Luiz, Pagliari e Ramatis, costumávamos degustar juntos e cada um tinha personalidade para discordar ou concordar com o outro, com sinceridade e bons argumentos e todos crescíamos degustando juntos e discutindo e divertindo… Show isso. Tenho saudade.
Didú, Edgar e Avi
O Edgar tem tudo o que admiro em um produtor de vinhos naturais; vou enumerar:
- Pequeno e não pretende crescer
- Radical no conceito de vinificação, com fermentações espontâneas
- Respeitar cada safra e cada ano
- Faz por vocação, quase um “chamado”
- Consciência e orgulho de que não está afetando o Planeta
- Modesto sem ser tonto
- Não tem arrogância e nem presunção
- Gosta de opiniões
- Convicto do que faz sem ser hermético
- Adora ver a manifestação da casta nos seus climat
- Elegância na vinificação sem lançar mão de recursos externos
Os vinhos da Carter Mollenhauer (sobre nomes do Edgar e sua mulher), são de Itata e de parcelas especiais. Ele pesquisou seus solos antes de decidir o que fazer. Enólogo traquejado com bom curriculo embora jovem, 38 anos, Edgar tão mãos especiais. Uma elegância em seu trabalho que chama a atenção.
Degustamos um Carrignan VIGNO, tres Cinsault de parcelas distintas, dois Pais de parcelas distintas e duas safras do Sémillon laranja.
Meus destaques, sem desfazer de nenhuma das outras maravilhas degustadas, foram o Aurora de Itata País 2022 e o La Palma Semillón 2020 Laranja. Ambos custam R$ 210,00 para consumidor final. Os vinhos do Edgar vão de R$ 210,00 a R$ 380,00 e valem.
Comentei na ocasião e acho imprescindível escrever aqui, que quando se encontra pela frente um vinho puro e sincero, de vinhedos limpos de químicos, de vinificação espontânea com as próprias leveduras, sem interferência alguma, não há o menor cabimento avaliá-lo. Isso pelo simples fato de não termos capacidade nem informação de sabermos avaliá-lo. Um vinho assim nnao cabe nos parâmetros aos que os avaliadores estudaram e foram “estabulados” como rodas de aromas desenvolvido na Universidade de Davis há 50 anos atrás… por favor. Vinhos desse nível de sinceridade e pureza estão aí para nos ensinar. É fundamental termos humildade ao provar um vinho desses antes de sair dando opiniões.
Dito isso, quero dizer que desde a primeira safra do Clos Ouvert que provei há anos e que foi vinificada pelas mãos de Marcel Lapierre, seu sobrinho e o Louis Antoine Luyt, não havia provado um vinho dessa casta tão elegante. Ele me lembrou mais um vinho de Gamay do saudoso Bernard Hudelot. Foi de chamar a atenção.
Destaco também o inacreditável e sedutor Semillón Laranja com inusitado processo de leve solera… Gravei diversos momentos dessa tarde onde caminhamos nas nuvens, embora o som ficou um pouco comprometido, afinal estava do outro lado da mesa a céu aberto e com alguns helicópteros… mas acho que em local silencioso dá para entender o que disse o Edgar que secondo me merece ser ouvido. Aproveite. Grazie Amigos, que dia memorável. Saúde!