Simplesmente… Vinho 2023 Dia 1 e 2
Bem, não tinha como ser diferente, o volume de informação que obtive em doze dias de Portugal a convite do simplesmente… Vinho foi impressionante e me força a dividir os posts por dias, assim a cada semana postarei um e vocês vão acompanhando com calma eu consigo ir mostrando o material enorme que gravei.
Cheguei a Lisboa perto da hora do almoço e fui recebido no aeroporto pelo simpático e jovem, atualmente quase todo mundo é jovem para mim…, Luis Capitão. O João Roseira que vai organizando tudo não sei como, pois tudo sai de sua cabeça em cima da hora e tudo dá certo.
Imaginem que fiquei sabendo de meu roteiro de visitas antes do Simplesmente, no dia de meu embarque… ele mandou uma foto do Luis Capitão para mim e outra minha para o Luis e assim nos encontramos no aeroporto.
O Luis é um cara sensacional, daquelas pessoas abnegadas ao seu projeto sustentável de permacultura e agro-floresta e um trabalho biodinâmico em seus vinhedos. A Herdade do Cebolal é de sua família e ele assumiu o projeto implantando suas idéias sustentáveis.
Aliás o que mais vi no Simplesmente, e com grande alegria, foi essa nova geração que era praticamente metade do salão, jovens de 30/40 anos, convictos de um trabalho de sustentabilidade, seja em vinhedos da família que agora chega em suas mãos, seja em transformação de grandes vinhedos de venda a granel sendo lentamente transformados em orgânicos e produzindo vinhos com leveduras selvagens e muitos com fermentação espontânea, seja arrendando vinhas abandonadas, muitas delas vinhas velhas preciosíssimas do ponto de vista histórico, cultural e de qualidade para o vinho. Muito bacana e entusiasmante isso.
Mas voltando a falar do Luis, cuja família possui a Herdade do Cebolal desde 1880, ele costuma dizer:
“O Cebolal não é nosso nem das gerações vindouras, é um património que simplesmente… está nas mãos de cada um de nós; que respeitamos; com o qual nos identificamos e orgulhamos; e que pretendemos que se mantenha na nossa família durante mais gerações. Um património que sentimos obrigação de manter e melhorar, e desejamos que os nossos filhos e netos aprendam a amar e a respeitar, e dele se orgulhem também.
Por isso tudo, o que fazemos tem um cariz familiar. Procuramos manter a tradição aliada às novas tecnologias, o know how associado aos valores, à ética, à responsabilidade e respeito pelo homem e pela natureza. Temos a ambição de fazer vinhos diferentes aliando o tradicional e moderno. Somos artesãos e alfaiates dos nossos vinhos. Vinhos especiais feitos ao colo, respeitando o que a natureza nos proporciona.
Temos uma filosofia amiga do ambiente e todo o trabalho é feito em protecção integrada, minimizando o impacto ambiental resultante da nossa actividade. Sentimos uma enorme gratidão por aquilo que recebemos dos nossos antepassados e esta gratidão estende-se à Natureza – clima e terra – pois são eles que nos proporciona o prazer de saborear o nosso néctar vínico.”
O Luis conta com o apoio de um enólogo excepcional, Rodrigo Martins de quem falarei em outro post. Mas o Luis então veio conversando comigo tão empolgado que acabou por esquecer de abastecer o carro de combustível e ficamos no meio do caminho em pleno carnaval, esperando que um amigo de caça dele viesse nos socorrer… hahahahahahaaaa isso mostra bem a paixão do cara e onde anda a cabeça dele com suas prioridades, gostei demais e rimos muito disso …
Bem, continuamos nosso caminho e como havíamos parado próximo a um ótimo restaurante, fomos lá para um almoço ajantarado… no Solar dos Leitões, como eram amigos dele e estava tendo um pequeno aniversário em família, eles nos acomodaram fora de horário. O Solar dos Leitões é daqueles endereços regionais que nos surpreendem, na engtrada é uma espécie de bar onde as pessoas do local se reunem, bebem e petiscam o dia inteiro, tem cafee da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar… e passando por uma porta entra-se no salão de almoço e jantar. Show.
Fomos lá e comemos dois deliciosos pratos, uma caldeirada de arraia e umas bochechas de porco. E o Luis então pegou no porta-malas do carro um vinho seu de beber ajoelhado, um branco de curtimenta que criou véu, de vinhas velhas de 90 anos! No vídeo ele descreve as castas, metade das quais nunca havia ouvido falar…, pois acredite, o vinho harmonizou bem com os dois pratos extremos, super caseiro e saboroso. Adorei.
Claro que trouxe uma garrafa dessas que ele não quis me vender de forma alguma e me escreveu uma dedicatória no rótulo… Grazie Amigo!
A tarde avançava, ele me mostrou a cidade onde mora, visitamos alguns pontos muito bonitos e depois me deixou numa pousada muito aconchegante, a Tons da Terra, toda na linha natural e onde os visitantes se hospedam para fazer passeios a cavalo e visitar vinícolas da região.
No dia seguinte era a manhã para conhecermos a Herdade do Cebolal e seu maravilhoso trabalho ecológico na região. O Luis é daqueles caras comunitários, agregador e reuniu quinze vizinhos para todos praticarem a mesma filosofia agrícola sustentável e se ajudarem. Inclusive se quotizaram para ter um ônibus para pegar as crianças e levá-las à escola. Sensacional. Contatos no herdadedocebolal@gmail.com
O Luis tem também um interessantíssimo projeto de vinhos que ficam no fundo do mar, ele fala disso no vídeo e fiquei muito surpreso ao saber que ele verificou e constatou isso cientificamente que as moléculas do iodo do mar e o sal do mar, são menores que as moléculas do vidro, permitindo mesmo que muito lentamente uma penetração de iodo e sal marítimo no vinho! Fiquei muito surpreso ao saber disso. As rolhas da-se o mesmo e de forma mais drástica, obrigando que sejam cobertas por cera de abelha para aguentarem isso.
Bem, Fomos para Lisboa onde encontraríamos o Nuno Ramilo e seu enólogo Jorge Mata num restaurante muito simpático que infelizmente não anotei o nome… mas onde me deliciei com uns vongoles de entada que estavam deliciosos e seguido de um arroz caldoso de peixe e camarões que estava de babar, ainda mais acompanhado de dois vinhos espetaculares, o Ramilo Galego Dourado de maceração e o Vinhas Velhas tinto de Ramisco que é vinho especial.
A Ramilo Family Wines cultivam 10 hectares de vinhas em duas quintas localizadas na zona litoral entre Colares e Mafra. Os vinhos, feitos com a ajuda dos enólogos Jorge Mata e Virgílio Loureiro, são o reflexo profundo da zona onde nascem, mantendo-se fiéis às castas e aos métodos artesanais e ancestrais de produção da região, e conservando os traços mais profundos dos vinhos que sempre ali se fizeram: frescura, mineralidade e salinidade.
O Nuno é um gentleman, discreto, jovem, casado com tres filhos e adora sua família e seu trabalho. É bonito de se ver isso. O Jorge, o enólogo, talentosíssimo é também seu amigo de longa data e juntos tocam esse paraíso com carinho. Inflizmente tudo se alonga nas conversas e nos vinhos e quando chegamos para visitar as vinhas começou a chover, mas eu consegui gravar um vídeo com o Nuno no vinhedo de Ramisco, na areia, Aliás vale ver o que ele diz, pois ele levanta uma questão interessante sobre o que se imagina da enorme diminuição dos vinhedos de Colares por conta da especulação imobiliária. Parece que não é bem, assim, afinal eu mesmo vi diversas áreas desabitadas e sem cultivo na areia, que chama a atenção.
Eu deveria de lá, ser deixado em Lisboa, no apartamento do meu Amigo Vitor Claro dos deliciosos vinhos Dominó. eu deveria dormir lá repetindo um programa de quatro anos atrás onde a gentileza da sua esposa Rita Ferreira e ele me acomodaram no quarto do filho… essas viagens são assim e de repente você vira alguém da família… tenho muitas afinidades com o Vitor que tem idade para ser meu filho, um cara amoroso e sincero que faz o que gosta.
Não foi o que aconteceu e acabei indo dormir em Cascais num hotel que o Nuno se encarregou de reservar. Mas essa é uma outra história que fica para uma outra vez… Saúde!