Ubriaco com meu Pai.
Reisoli Russo
Esse era meu Pai. Seu curioso nome foi tirado de um livro que seu Pai, meu Avô Giuseppantonio Russo, tirou de um livro que tinham vários nomes de grandes navegadores italianos… hahahahahaa só Ubriaco mesmo para isso. Reisoli… Veja só. Foi uma dificuldade danada a vida inteira explicar seu nome. Não é Reisóli. É Rêisoli… Sempre… Didú não tem esse problema.
Mas por que cargas d’água (não Didú isso não se fala mais, você sabe…), fui falar disso agora. Acontece que o Ramatis tinha uma balada, o Demian insistiu que fosse a sua casa, Gibran na Ilhabela… Eu sou um presunçoso que acho que Reveillon é Black-Tie ou Fantasia e ponto final… Então marcamos um brunch para amanhã e nada de correria no 31…
Comprei então um arenque, um paté e uma térrine na Santa Luzia, ums figos secos, umas nozes, um pão de centeio rústico (esqueci de um pepino em conserva que fez falta…) e um Marron Glacé. Abri uma garrafa de um Pinot Gris Reserve 2017 de Vieilles Vignes (que uva meu Deus), da Sylvie Spilemann e me sentei com o Costelinha e a Luna, a cachorrinha que está no lugar da Frika que nos deixou depois de 17 anos!!!
Luna SUPER agradecida do nosso carinho
Tá bom Didú… Ubriaco não é mole… conta aí a razão do post pô… hahahahahahaaa
Acontece que o Papai era tenor. Ele foi amigo pessoal de Beniamino Gigli (pesquise no Google para saber quem era), que em São Paulo só andava no automóvel do Papai, um Hudson 47 que parecia um quebra gelo… Gigli foi um assombro, bisava seis vezes um trecho de ópera sem cobrar cachet suplementar e ainda cantava no intervalo no terraço do Municipal para quem não pode entrar… Tenor das antigas, popular, emocional, e anterior ao mercantilismo.
Tenho disco autografado dele para o Papai, fotos com dedicatórias e ele gravou Casa Pequenina por sugestão do meu Pai, o Reisoli… Em minha infância, cada tenor novo que aparecia, lea ia o Reisoli com o LP comparar o cara com o Gigli, faixa por faixa… Foi uma aula de canto lírico que impregnou em mim, mais que em meus irmãos, me lembro do Papai dizendo: “Veja meu filho como o Gigli emenda esse trecho no outro…” ou “…E aqui então, veja o que é interpretação… ora… não há termos de comparação…” hahahahaha Gigli era o máximo mesmo, mas a admiracão do Reisoli por ele era ainda maior.
Assim a ópera ficou impregnada em mim de tal forma que é muito difícil, ubriaco ou não, não me emocionar com alguns trechos delas, Tosca, Andrea Chenier, Pagliacci, Turandot, La Traviata…
Hoje depois de montar minha mesinha de Reveillon solitário comecei a percorrer os infindáveis canais e me deparo com um especial sobre os bastidores dos Tres Tenores… Perfetto!! E assim foi que, claro ubriaco cheguei às lágrimas lembrando do Reisoli.
Coitado não teve coragem de ir pra Itália com seu ídolo, que o convidara para ir com ele que o faria um grande Tenor… Ele recuou. Afinal, havia acabado de montar seu escritório de representações de madeira e meus irmãos eram bebês… deixei de nascer italiano…
Tudo isso passa pela cabeça, a ausência dele também, nossas discordâncias e nossas afinidades também, a infância farta que ele me deu e os melhores colégios que não teve, tudo, como num filme, Férias em São Vicente, sorvetes, brincadeiras das festas familiares, a fartura que havia com a imprescindível e fundamental Dona Yonne, minha Mãe a seu lado, e dale Recôndita Harmonia, Nessum Dorma, e o Didú com a garrafa da Sylvie no finzinho… Madonna Mia di Sapri… hahahahahahaha
O importante é que nossa emoção sobreviva. Não dá pra ouvir Ópera sem se emocionar, ubriaco ou não… Grazie Babbo!!