Negócio da China, só na China…
O avô de um amigo meu costumava dizer essa frase: Negócio da China, só na China. E é bem apropriada mesmo, pois essa coisa de pechinchas, de achados, normalmente são engodos….
O mercado do vinho está inundado de ofertas sedutoras de vinhos franceses, italianos, espanhóis, sempre com rótulos lindos e nomes de sugestão de tradição e nobreza, custando R$ 30,00 R$ 35,00, mas que na verdade não passam de vinhos baratos, industriais, de volume, que nada têm a ver com a imagem que as etiquetas sugerem.
Claro que há achados eventualmente, eu mesmo descobri ao acaso numa degustação `as cegas da Confraria dos Sommeliers, um vinho português D. João I importado pelo Pão de Açúcar, que na época custou coisa de R$ 17,00 e ficou em 2º lugar bem a frente de vinhos que custavam dez vezes mais. Era um vinho de uma cooperativa de Beira e delicioso, depois provei o tinto também com o mesmo prazer e surpresa. Acontece, mas é como achar uma agulha no palheiro.
Eu costumo indicar vinhos Abaixo de 50 Paus, sempre com muito sucesso, pois sei bem da realidade brasileira, ainda hoje cerca de 75% a 80% de todos os vinhos que se vende no Brasil estão abaixo dos 50 paus… Porém com o câmbio nas alturas como está, fica cada vez mais difícil a oferta de bons vinhos, verifico que as minhas primeiras indicações dos Abaixo de 50 Paus, hoje estão o dobro do preço. O Villard Sauvignon Blanc que cansei de indicar no início dessas dicas hoje custa R$ 160,00…
Atualmente, você encontra melhor relação de qualidade e preço nos vinhos brasileiros de entrada das grandes vinícolas, como Aurora, Salton e Miolo, do que nesses negócios da China, tenha certeza disso e se puder faça provas `as cegas para constatar.
Eu procurei meu Amigo Adão Morellatto da International Consulting, empresa que presta serviços de consultoria na importação de inúmeros importadores de vinho e pedi a ele que me decupasse as despesas que um importador tem com um vinho vindo da Europa para cá e fiquei surpreso.
Imaginem que existem 17 ítens de despesas e tributos por conta de burocracia e taxas nessa operação e tomando por base um vinho de € 2,00 ex-cellar (nome que se dá ao preço negociado com o produtor na origem), acaba chegando aqui nacionalizado por € 4,69 !!! Isso só para o vinho chegar aqui e ser nacionalizado. Veja essa relação:
- pick-up Custo de retirar o vinho no produtor.
- Imposto de Importação e27%
- AFRMM Taxa de Marinha Mercante.
- S.D.A. Sindicato Aduaneiro
- Laboratório – Amostras
- Correios – Taxa de envio dos comprovantes ao importador após despacho aduaneiro.
- Security Seal Fee – Taxa de selo de segurança, cobrada pelo agente de cargas, (lacre do “container”).
- Envio de Amostra Laboratório. Taxa cobrada pelo courrier do envio das amostras do Recinto Alfandegado (Santos) até o endereço do laboratório em São Paulo.
- Taxa Administração do Agente – Taxa tributárias e físicas, cobradas pelo agente, isto varia de agente para agente.
- CARTÓRIO Taxa cobrada para deixar cópias dos originais no Despachante, para eventuais solicitações da SRF e MAPA.
- THC – trata-se de uma despesa portuária referente à movimentação do “container” no terminal portuário
- Handling – Valor cobrado pela movimentação dos equipamentos, do navio até o local de armazenamento do “container”.
- Origin Charges – Taxas cobradas pelo despacho na Origem, documentação aduaneira.
- Taxa Siscomex – Essa taxa é devida ao ato de registro da Declaração de Importação (DI) no Siscomex, conforme especificado na Lei No. 9.716, de 26 de novembro de 1998.
- Liberação de B/L – Taxa cobrada pelo agente de cargas, para liberação do B/L: Bill of Landing. B/L FEE
- ISPS – International Scurity and Port Security ou TSF – Terminal Security Fee. É o código internacional de segurança de navios e instalações portuárias, para controle de acessos e monitoramento, cobrados pelos terminais e cias marítimas.
- IPI 10%
Neste momento seu vinho estará liberado para você… Então, aquele vinho de € 2,00 que você achou um bom negócio já está custando € 4,69 e você até agora só teve despesa.
Na sequência você teria que acrescentar diversos tributos e custos conforme o modelo de negócio que você pretenderá fazer. Você vai simplesmente estocar e vender diretamente pela internet?
Nesse caso você teria:
- 25% de ICMS sobre a venda
- 9,25% de PIS-Cofins
- 5% custo de transportadora
- 10% a 12% de custo administrativo e marketing
- 2,5% Taxa de Cartão de Crédito
- 7% de Comissão de Vendas
- Margem de ganho que somados costumam triplicar o valor do vinho nacionalizado.
Ou seja, aquele vinho que ao câmbio de quando escrevo a você é de € 1,00 = a R$ 5,68, terminou por deixar aquele vinho que na origem custou R$ 14,07 a R$ 79,91 !!!
E nessa conta não estou computando custos financeiros, pois muitos vinhos têm uma distância de seis meses entre desencaixe financeiro e recebimento, alguns mais.
Também não estou colocando custos de devolução. E considere que após nacionalizado o vinho vendido pagará 25% de ICMS sobre a venda mais 9,25% de Pis Confins, 7% de comissão, 2,5% taxa de cartão, 5% transportadora, 10 % de custo administrativo e mkt. Que tal?
Sobram líquidos 10% /12% que é melhor que qualquer aplicação no banco
Mas claro, não podemos esquecer de todo risco envolvido (câmbio instável, greves portuárias ou de fiscais, mudanças na legislação, etc…)
Então gente, vejam que o importador não é o ladrão. Ladrão é o governo e a burocracia e a bi-tributação.