Brandaboutwine – Chile 2º dia.
Saímos cedo do hotel com nossas malas e a pontualidade de Nelida Gamblim e assim às 8:30 estávamos na estrada rumo a Viña Invina. Dia lindo, aliás todos os dias lindíssimos.
Eu não poderia imaginar que esse dia me trouxesse tanta diversidade até em extremos, afinal, Viña Invina do simpático Alex Huber e que tem o enólogo Camilo Diaz como responsável pelos vinhos, tem um foco muito pragmático no mercado. O Chile é pródigo nisso e esse produtor é daqueles que faz bons vinhos convencionais voltados para o mercado.
Eu entendo que há um divisor de águas muito claro no mundo do vinho. Os vinhos que constroem marca com qualidade e com competência para entregar o que cada mercado busca e que o faz com absoluto controle e os vinhos artesanais, de autor onde o produtor está mais interessado em mostrar o que tem, o que pretende criar, oferecer, o terroir de verdade, etc.
No primeiro caso o controle é sempre do mercado e do enólogo. Ele tem que ter controle, pois os volumes são maiores, ele tem que entregar o que os acionistas esperam do trabalho dele e por tanto tem que ter controle. Esse é o mundo das leveduras selecionadas. Não há possibilidade de surpresas nos processos. Isso não quer dizer que os vinhos não sejam bons, há vinhos excepcionais nesse segmento, aliás a maioria deles e provavelmente, a maioria dos vinhos que você leitor, gosta.
Viña Invina e Renan Cancino em sequência deixa esse cenário claríssimo para qualquer pessoa que o percorra.
Os vinhos da Viña Invina me agradaram bastante pelo seu frescor e sua proposta. Vinícola focada e estruturada, suas vinhas, seu cenário com viveiro de castas, coisa cada vez mais comum nas vinícolas, veríamos novamente o mesmo em Viu Manent, seu projeto eno-turistico de visitação, que estará pronto este ano, os sistemas de condução de vinhas, tanto o Pergolado ou Latada ou Parral, que são o mesmo, como as Espaldeiras, seja no sistema Guyot ou no de Cordone Esperonato, o sistema de Arbusto ou Goblet ou Bush ou Vaso ou Cabeça ou ainda Alberelo, dependendo do país, em fim, bacana e educativo.
Pergolado, Espaldeira e Goblet
Seus varietais têm tipicidade e frescor, eles possuem alguns assemblages inusitados como o Tricky Rabbit com 90% de Sauvignon Blanc e 10% de Carmenère vinificado em branco, por exemplo, ou o Ojos Verdes, com Cabernet Franc, Syrah, Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Carmenère. Meu destaque foi disparado Secano Tempranillo. Os vinhos da Santa Ema vão de U$ 2,00 a U@ 13,00 ex-cellar.
Gostei também da completa apresentação que o alex fez do mercado produtivo do Chile, onde mostra que 77% dos vinhos do Chile vêm de Maule (que é Maule de Cachapoal) e Curicó e de O’Higgins (que é Colchagua e Cachapoal). Eu não fazia idéia disso.
Tivemos um delicioso e frugal almoço com eles, com frutas, sanduiches e presunto cru e seguimos em direção a Sauzal.
Não foi fácil, pois nos perdemos com as direções de Renan Cancino e o entendimento do Waze… Mas a Nelida conseguiu falar com ele ao celular e ele nos orientou…
Um outro extremo, um outro Chile, algo absolutamente digno de nota. Aqui devo um agradecimento a Brandaboutwine e a Renan Cancino, afinal eles atenderam a um pedido meu pessoal, que gostaria de priorizar produtores biodinâmicos, naturais, artesanais, etc., que hoje fazem a alegria da minha preferência em vinhos.
Renan Cancino: Íntegro, Digno, Competente, Natural
Haviam outros ainda na minha lista inicial, mas estavam viajando, mas o Renan fez questão de aceitar esse convite e nos proporcionar um dos pontos mais altos dessa viagem secondo me.
Digo isso, pois como vocês poderão assistir no vídeo, o Renan Cancino é uma pessoa que poderia facilmente estar ganhando mais dinheiro se trabalhasse para alguma grande vinícola, mas ao contrário, convenceu-se de que sua contribuição ao Vinho seria a valorização de sua história, de resgatar o vinho ancestral, de continuar a fazer um vinho absolutamente puro, autêntico, como a humanidade fez por 9 mil anos!! E como os Jesuitas trouxeram para o Chile para celebrar suas missas.
Vocês verão a rusticidade e a simplicidade do trabalho de Renan Cancino e um dia se possível provem seus vinhos, que você encontra na importadora Dominio Cassis. Trata-se de um vinho para você aprender e estudar e não analisar. É exatamento o contrário do que lhe ensinaram nos cursos. Esses vinhos puros, sinceros, inimitáveis não podem ser avaliados, pois não temos informação suficiente para isso, ao contrário, ele vai lhe mostrar o que é o terroir de Huazo de Sauzal, ele vai lhe mostrar quem é Renan Cancino com toda sua dignidade e integridade. Respeite isso que não é pouca coisa não. É algo raríssimo no Mundo.
Gostaria de ter ficado lá conversando com Renan, bebendo seus vinhos, comendo comidas locais até cair no sono… juro, mas a caravana tinha que continuar…
Casa Donoso
Fomos para a deliciosa e histórica Casa Donoso, onde já havia estado em 2013 e que estava com novidades, tanto nas instalações que foram ampliadas ao lado da casa principal como em vinhos…
Mais uma vez nos surpreendemos com a Carmenère e com muito mais. O
1810 estava delicioso, o Sucessor Romano com 100% da casta Cesar Noir, já ouviu falar? O discurso da simpática Ingrid Guerrero responsável pelo Marketing da Casa Donoso e nossa anfitriã, dava conta de que segundo o ampelógrafo Jean-Michel Boursiquot, aquele mesmo da Carmenère, que diga-se não estava extinta coisa alguma… essa casta seria a Mãe da Pinot Noir, o que gerou um ótimo papo na mesa, claro.
Segundo o conhecido e competente Hugh Johnson na História do Vinho, a casta teria sido resultado de um trabalho de cruzamento realizado pelos monges cistercienses das castas “Peneau” que teria esse nome por conta de sua forma de pinha e a “Noirien” que teria esse nome por ser acinzentada, gerando assim a pineal-noirien que viria a ser a Pinot Noir… Papo de ampelógrafo que não sou né?… hahahahahaha
De qualquer forma pedi ao Ramatis que pesquisasse no Wine Grapes da Jancis Robinson, sempre ela… e parece que a uva seria na região do departamento de Yonne ao norte da Bourgogne mais especificamente na região de Chablis e teria sido levada pelos romanos…
O fato é que fiquei tão intrigado que quis comprar um para tomar com meu Amigo Don Jerez, o Professor José Luiz Giorgi Pagliari e o Ramatis e quem sabe o Luiz Horta se sair do casulo… Nunca havia ouvido falar. O vinho teve fermentação espontânea e produzido em ânfora, adorei, intenso, frutado, denso e fresco. A gentil Ingrid me presenteou com uma garrafa que hoje repousa na minha adega. Grazie.
Abaixo você tem o vídeo com tudo isso, curta. Saúde!