Deveríamos valorizar os vinhos de Isabel.
Sempre me lembro do Luis Vicente Elias Pastor, do Departamento de Documentação e Patrimônio Cultural da López de Heredia da Rioja que produz o inimitável Tondonia. Ele era um dos convidados em uma visita organizada pelo saudoso Projeto Imagem do extinto Ibravin, ele estava no mesmo grupo que eu e o Don Jerez (Professor José Luiz Giorgi Pagliari), e fez dois comentários que eu nuca me esqueci.
Ele nos dizia que o Brasil deveria preservar o sistema de cultivo em “latada” que é o mesmo sistema de “pérgola” que estava quase extinto no Mundo e nós poderíamos contribuir para a preservação dessa cultura e até tirar proveito disso. A outra foi ainda mais contundente e me incomodou mais. Ele nos perguntou por que não se faziam vinhos de qualidade com as castas não viníferas…
Passados alguns anos aparece um vinho excepcional de Isabel e Sangiovese, era o Rovinai do sensacional Eduardo Zenker, aquele produtor que foi vergonhosamente denunciado por colegas por pura inveja. Se você não sabe do que se trata, leia Aqui . O episódio mais triste, injusto e vergonhoso da história do vinho brasileiro.
Aparece também o delicioso Praia do Rosa da Lizete Vicari e os vinhos do Boroto com uvas orgânicas todas americanas como a gostosa Polenta.
Hoje tive o prazer de degustar um vinho do produtor Edgar Luis Giordani da Vinum Terra – Locanda di Lucca, este um Isabel com Moscato Embrapa uvas de cultivo biodinâmico e sem SO2. Chama-se Luna Rosé.
O Edgar era um dos formando de enologia no ano em que eu tive a honra de ter sido jurado do concurso de Vinhos da ABE, ocasião que aproveitei para sugerir que enaltecessem os pequenos produtores artesanais, o que de nada adiantou, diga-se… mas ele era um dos que faziam o exemplar serviço do vinho e ao me servir disse que um dia serviria para mim seu próprio vinho biodinâmico. dito e feito, já provei diversos dele todos muito bons.
O Brasil, especialmente os consumidores de vinho e formadores de opinião deveriam ter mais respeito com as uvas de mesa e incentivar quem sabe fazer vinhos bem feitos com ela, caso desses que citei acima. Ela é um patrimônio da nossa cultura. Nos Açores ninguém ridiculariza o Vinho de Cheiro e nós também não devemos precisar que venha alguém de fora para nos dizer isso com credibilidade, ora…
Acho que temos bons vinhos com essas castas que precisam e merecem o nosso respeito e incentivo.