Vender Vinho Barato é Caro…
Conversando com meu Amigo Carlos Cabral a respeito do investimento de Portugal no segmento dos vinhos e sua vontade de começar a subir os valores médios. Hoje importa-se caixas de 12 garrafas ao preço médio de € 18 a 21,00 o que dá € 1,5 a 1,75 por garrafa! E soube também que agora eles pretendem aumentar essa faixa de preços, buscando vinhos um pouco mais caros entre € 21 e 23,00.
Parece que Portugal descobriu o que o Chile já descobriu faz tempo e que vem tentando fazer mas com êxito apenas na outra ponta, a dos vinhos top.
Vender vinho é complicado. Aliás essa coisa do vinho barato foi brilhantemente sintetizada no comentário do importador Rogério d’Avila da Ravin: “Didú, vender vinho barato é caro”
Vejam a realidade brasileira, que aliás poucos se dão conta… o Brasil é um país dramaticamente desigual. Basta ver nossa renda per capita que é de R$ 1.122,00 por mês.
Claro que existem também os que têm muito, muito mesmo, pois pesquisando esses números descobri que: existem 144.057 contribuintes, na faixa entre 80 e 160 salários mínimos, com patrimônio líquido médio de R$ 4,69 milhões. Outros 33.261 contribuintes na porção de 160 a 240 salários mínimos, com patrimônio líquido médio de R$ 9,29 milhões. Na parcela entre 240 e 320 salários mínimos, são 14.363 contribuintes com patrimônio líquido médio de R$ 13,64 milhões. E ainda 28.540 contribuintes com renda de mais de 320 salários mínimos e com patrimônio líquido médio de R$ 53,47 milhões! Ou seja há 220 mil pessoas cujos problemas não parecem ser financeiros… esses são os que estão comprando os vinhos top chilenos.
O setor do vinho precisa urgentemente que o brasileiro entenda o vinho como um complemento alimentar, como o europeu entende a bebida e não um consumo social como o que acontece aqui. Esse é o nosso principal desafio. Ele é que poderá alavancar enormemente nosso consumo. Aliás a pandemia mostrou exatamente isso, um tímido mas perceptível movimento nesse sentido, me parece.
Eu sou um antigo defensor do Vinho como um Alimento Funcional e prego sempre que posso o consumo de 1 taça por refeição que é a indicação médica e inclusive volume de consumo que corrobora os cerca de mais de 2 mil estudos científicos a respeito dos benefícios do Vinho como complemente alimentar.
Mas quando se faz a conta do consumo de 1 Taça por Refeição se descobre que se tratam de 3 garrafas por semana ou 12 garrafas por mês.
Mesmo com os vinhos que sempre gosto de promover, os Abaixo de 50 Paus, (justamente a faixa de preços que os portugueses e os chilenos são líderes e pretendem aumentar o preço), a coisa fica muito complicada para a maioria dos brasileiros, pois R$ 50,00 x 3 garrafas/semana x 4 semanas, temos um custo mensal de R$ 600,00 em vinho.
Esse dinheiro só cabe para pessoas com rendimento mensal de R$ 5mil, o que reduz o volume de pessoas para 15 milhões de brasileiros.
Quem tem dúvida disso, basta ver que o líder de mercado é o vinho de mesa cuja garrafa de 750 ml se encontra na faixa dos R$ 10 a 15,00 em garrafão é ainda mais barato.
Lamento informar aos amigos portugueses e chilenos que o maior potencial brasileiro está justamente nos vinhos onde eles têm feito sucesso até hoje. Fora disso são os consumidores eventuais e os daquele grupo de abonados…
Um dos caminhos a se buscar certamente é a educação do consumidor associada a degustação e promoção. A outra é a redução da burocracia e dos tributos que maltratam o Vinho como se fosse algo pernicioso quando é justamente o contrário, mas isso me parece difícil de mudar… Acho o primeiro caminho mais factível.
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