Decantar. É necessário?
Não se sabe exatamente quando surgiu o decanter, ele na verdade parece ser uma evolução das ânforas que eram usadas para servir o vinho quando este era vendido a granel, antes da existência das garrafas de vidro como conhecemos hoje.Com o tempo ele foi evoluindo e ganhou sua principal função que originou seu nome. Decantar.
Usa-se o Decanter para duas funções distintas, uma é decantar um vinho antigo que acumulou borras na garrafa. Para isso a garrafa deve ser colocada um ou dois dias antes na posição vertical para que esses sedimentos desçam para o fundo da garrafa. Em seguida usa-se uma fonte de luz, normalemnte usa-se uma vela, fica mais charmoso, que é colocada na posição oposta a de quem fizer o serviço, para que se possa acompanhar o momento em que os sedimentos poderiam começar a cair no decanter. Veja na foto abaixo:
Outra função do decanter é para aerar e dessa forma apressar a “abertura” do vinho. Especialmente em vinhos muito estruturados e jovens, caso dos Brunellos, dos Supertoscanos dos Bordeaux, um decanter é de boa ajuda para que o vinho se abra.
Essa função na verdade acontece na taça durante o seu consumo. Conforme se vai bebendo o vinho e se vai girando a taça para curtir os aromas dele, o vinho vai aerando. Você já deve ter percebido que acontece com frequência de um vinho estar bem gostos e você resolve repetir a garrafa e ela não chega como estava a anterior, não é mesmo?
Por que acontece isso, por que a anterior teve tempo para aeraro vinho e ele se abriu. A nova garrafa não. Precisamos lembrar que um vinho está lá dentro da garrafa, em repouso, evoluindo calmamente enquanto a história vai passando do lado de fora da garrafa. Não podemos esperar que ele saia desse estado e venha para nossa taça oferecendo tudo o que tem a oferecer. Ele precisa se ambientar.
Ao aerar o vinho isso acontece. Eu particularmente não uso decanter. Gosto de ir percebendo o vinho se abrir. Os bons e tradicionais Barolos por exemplo, oferecem isso como nenhum outro vinho, a razão é a constituição genética de sua casta a Nebbiolo, que se desdobra em diferentes aromas com o tempo de respiração. Um Barolo aberto e distribuído em quatro taças, por exemplo, se bebido a cada meia hora, você perceberá quatro vinhos diferentes. Extraordinário. No vídeo abaixo a explicação para isso:
A evolução de um Barolo
Hoje se tem como benéfico a decantação de qualquer vinho, inclusive os brancos. Vinhos novos uns 30 minutos e os com idade de 40 a 60 minutos. Porém muito cuidado, pois um vinho já com bastante idade, digamos 40 anos ou mais pode morrer ao ser decantado. A razão é exatamente o choque do contato exagerado com o oxigênio que acaba por matar o que o vinho tinha a oferecer. Eu lamentavelmente já presenciei isso.
Minha sugestão é que vinhos com idade, não se decante. Apenas desarolhe, prove e dê uns minutos a ele. É comum inclusive que ao abrir um vinho com muita idade a primeira percepção seja de vinho oxidado, o que normalmente desaparece em seguida.
Outra curiosidade é que hoje se costuma decantar Champagnes safrados. Nas safras especiais, quando o Champagne não lança mão de vinhos de outras safras para chegar ao perfil que deseja, esses vinhos trazem o ano no rótulo, são os safrados, os “millesimes”. A razão é que a estrela desses vinhos não é o pérlage, seja no espoucar em nossos narizes, seja em admirar seu ballet com o cordão de borbulhas a subir pela taça. não, nos safrados a estrela são os seus complexos e sedutores aromas. Para isso decanta-se o espumante para melhor apreciá-los.
O campeão dos decanters é o austríaco Riedel, que você encontra na Mistral, tanto os decanters como as taças impecáveis deles, e aqui eu deixo para vocês dois vídeos espetaculares de decanter, um o decanter EVE (nome da Mãe de Maximiliam Riedel que desenvolveu o formato), que por seu formato não permite que se sirva de uma vez mais que o volume de uma taça, e outro o decanter de Champagne. Veja que interessante:
Maximilian Riedel
Flávio Ghirotti