Ainda esse papo de Vinho Natural?
Eu fico absolutamente estupefato (ainda se fala isso?…), por ver tanta gente, seja do Mundo do Vinho seja curioso, ou mesmo simples consumidores discutindo esse papo do Vinho Natural. E pior, ouço muita bobagem. Muita gente atrás do modismo. Vou fazer aqui um BEABÁ para você se inteirar desse assunto e não ficar repetindo bobagens que lê pela web, ok?
- Vinho Natural não quer dizer que os “outros vinhos” sejam artificiais. Claro que não. Só um “salame” pode se ofender com isso e achar isso. Vinho Natural teoricamente deveria ser um vinho produzidos no mínimo com uvas orgânicas e não adicionar NADA em seu processo, especialmente o SO2.
- Não é por que o Vinho é Natural que ele é bom. Claro que não. Está cheio de oportunista, como sempre acontece com os modismos, por aí, fazendo um Vinho sem acrescentar SO2 mas usando uvas de procedências diversas. Fazer o que?
- Vinho Natural nasceu no final da década de 60, começo da de 70. Pelos estudos do Jules Chauvet. Saiba aqui neste IGTV.
- Os bons e ótimos Naturais quase sempre são Biodinâmicos, outro patamar de Vinho. Produzido por pessoas especiais e sérias. Neste tema não dá para surfar na onda do modismo pois o tema é sério. Se você se interessa em saber mais sobre isso. Sugiro assistir este IGTV e principalmente ler esta matéria e também esta.
- Não é por que os vinhos convencionais tenham a seu dispor mais de 300 insumos enológicos e outros 300 produtos químicos para serem aplicados nos vinhedos, que todos eles usam tudo isso. Afirmar isso é simplesmente inaceitável e prova de ignorância.
- Há muitos e muitos excelentes vinhos convencionais que são convencionais por usarem práticas enológicas modernas, mas de baixíssima intervenção. Por tanto não se pode jogar na mesma cesta todos os vinhos.
- A crítica que se faz ao uso de SO2 basicamente se refere a matar as leveduras indígenas, aquelas do local que contém o DNA do local e do ano. A título de matar bactérias indesejadas, mata-se junto essas leveduras… Essa é a crítica.
- É fundamental entender que enólogos de volumes consideráveis, são contratados para entregar um produto já definido. Não há romantismo nisso. Se ele errar ele perde o emprego e pode complicar a vida financeira da vinícola. Poucos pensam nisso.
- Basicamente o enólogo tem que ter controle total dentro da vinícola. Razão pela qual o ambiente é quase sempre asséptico. Então ele mata tudo que é indesejado que vem de fora e depois acrescenta o que precisa para fazer a uva virar vinho. O ponto crucial disso chama-se leveduras selecionadas, que são quase sempre industrias, de outro lugar.
- O produtor artesanal, ao contrário, vai no caminho inverso. ele precisa dessa vida externa para que o vinho aconteça com a menor interferência possível. Para que isso aconteça é fundamental que as uvas sejam muito boas, sem presença de químicos e de ambiente equilibrado (daí a importância da bisoidinâmica), razão pela qual o produtor biodinâmico Nicolas Joly afirmou certa vez que “a enologia moderna só serve para corrigir os erros que o homem comete no campo…”
- É fundamental se entender que o Vinho foi sempre o mesmo por 9 mil anos até que surgisse o adubo químico. Isso mudou o modelo de agricultura no Mundo e o Vinho foi de embrulho. Leia isto Aqui, para entender.
- É total exagero esse papo de alergia com SO2. Beira o ridículo, enlatados e frutas secas têm mais SO2 que qualquer vinho que você já tenha provado.
- O vinho mesmo Natural produz um pequeno porcentual de Anidrido Sulfuroso, sempre abaixo dos 40 mg/L.
- Os biodinâmicos aceitam adição de So2 no engarrafamento apenas mas sempre de origem vulcânica.
- Certificados de orgânicos ou de biodinâmicos não querem dizer muita coisa. Na maioria das vezes trata-se apenas de atributo comercial. O importante é se conhecer quem produz o vinho. Há muita enganação nisso e os melhores vinhos Biodinâmicos não têm certificação. Basta dizer que a Demeter da Alemanha aceita uso de leveduras selecionadas (??!!??), por pressão de produtores.
- A questão das leveduras também é importante deixar claro que: a) Pode-se desenvolver leveduras selecionadas de seu próprio vinhedo, inoculando-as. Isso é muito melhor do que adicionar uma levedura comprada, muitas vezes aromatizadas que simplesmente falsificam o terroir. 2) O enólogo pode também fazer um pé de cuba, como se diz, um concentrado de leveduras, com as próprias uvas (as melhores) do próprio vinhedo na própria safra. Isso garante a fermentação do mosto sem interferência de leveduras externas.
- Fermentação espontânea é algo mais amplo do que fermentação com as leveduras indígenas. A espontânea tem e precisa ter a interferência de seu ambiente, ele faz parte de sua personalidade. Se você visitar a Borgonha poderá ver isso ao vivo. Se esse tema lhe interessa, veja esta matéria.
- Discutir defeitos é outra bobagem sem noção que não entendo existir ainda. Trata-se de mundos distintos também. Um parte de avaliadores treinados a achar defeitos e outro de degustadores que buscam prazer em suas próprias lembranças. O que se pretende afinal? A busca da perfeição (isso existe?) foi o que levou os vinhos a ficarem todos muito iguais. Vinho correto é aquele que lhe dá prazer e ponto. Que discussão é essa? Aliás sobre aromas sugiro que você veja este IGTV e leia esta matéria.
- Provocações então é o que não falta. Aliás provocações e desconhecimento são o binômio das redes sociais do Mundo do Vinho, que transforma o Fecebook numa ridícula tribuna de enraivecidos. Para que isso? Posso saber? Devo dizer que na minha idade prefiro a paz. fique o provocador com a razão…
Espero que este post ajude um pouco a compreensão de que Vinho foi feito apenas para o nosso prazer. Esqueça a vaidade, ela é ridícula e pequena diante do Vinho. Saúde!