Mais respeito aos Restaurantes
Na matéria do meu Amigo Miguel Icassatti no Beteclando, ele comenta sobre diversos bons e tradicionais endereços de bares e restaurantes em São Paulo e Rio de Janeiro que fecharam as portas. Triste.
Ele comenta também que: “Na semana passada, um diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) disse-me que uma enquete apontou a quebra de 40% dos associados e a falência de um a cada cinco bares e restaurantes no Brasil em decorrência das necessárias determinações de isolamento social…. “
Eu não sei bem, como ninguém sabe bem, onde isso irá parar, como irá parar e como e quando voltará. Mas sei de algumas coisas que identifico nesta minha reclusão forçada e privilegiada, uma vez que vivo em lugar arborizado, no meio do mato, tenho a companhia de um filho e por enquanto, embora ganhando menos por conta das circunstâncias, tenho o que comer.
A primeira coisa que sei é que cozinhar em casa é mais barato e tem normalmente mais qualidade do que comer fora. Via de regra. Basta você fazer a conta de quanto gasta e com que qualidade de produtos para fazer um peixe assado, Um picadinho com Quibebe, um Spaghetti a Carbonara, ou al Sugo, ou a Calabresa, etc., um Quiabo com Músculo, um Quibe assado, um arroz com feijão, bife a milanesa, verdura refogada e batata frita, etc. Estamos falando de cerca de 1/3 do que se gastaria pelo mesmo prato fora de casa e normalmente com produtos de altíssima qualidade, ao menos aqui no Refúgio Biodinâmico…
Não há dúvida de que tem o trabalho, mas com inteligência emocional, você aprende a fazer dessa atividade algo prazeroso, acredite. E aprende a render os pratos. O Feijão por exemplo, outro dia temperei feijão. fiz 1 quilo de feijão. Separei em cinco porções. Uma delas foi no mesmo dia com arroz e escarola refogada. Outra parte ficou na geladeira e tres no freezer. Dois dias depois foi a vez de um tutu de feijão com couve rasgada e dois ovos fritos, mais dois dias e uma das porções voltou em forma de sopa de feijão numa noite fria, com macarrão e umas gotinhas de pimenta, a penúltima voltou como arroz, feijão, bife a milanesa e batatas fritas e a última parte aguarda a vontade de um outro momento… Muito rentável.
A segunda coisa e isso demora para se pegar o jeito é a quantidade. Cozinhar para duas pessoas, ao menos para mim que sempre cozinhei para oito… não foi fácil e ainda erro. O pacote de macarrão por exemplo dá para duas vezes, o molho o mesmo, quando faço separo metade e vai para o freezer. simples. Tranquilo.
Silvia Percussi
Agora a outra coisa que aprendi foi dar MUITO mais valor do que já dava a pratos mais elaborados. Se você for preparar algo fora do trivial, verá como a coisa é trabalhosa, demorada, exige técnicas, conhecimento e destreza. Nisso, não há a menor dúvida de que quando as pessoas voltarem a um restaurante passarão a dar um valor que poucas vezes deram a essas receitas.
Fui fazer um prato que nem muito elaborado é, mas que tem certo trabalho que é o Canederli (Veja no link a receita) dica da minha Amiga Silvia Percussi e demorei duas horas, com a ajuda do Ramatis… Tem que dar valor… Não se trata de fazer a conta dos ingredientes e ficar querendo colocar o preço no prato não. Requer gostar, saber, destreza, paciência, atenção, organização, carinho, tempo… e estamos falando de 1 prato, quando em um Restaurante o cardápio contempla cerca de 30 pratos.
Outra coisa que daremos muito mais valor será os encontros em torno da comida, com Amigos, momentos que são na verdade presentes divinos da celebração da vida, da alegria, da Amizade… isso junto com abraços e beijos será muito valorizado certamente…
Quantas vezes estivemos em encontros sem nos darmos conta do privilégio que estávamos vivendo? Quer pelas pessoas, quer pela qualidade dos pratos, quer pela qualidade e variedade dos vinhos, quer pela sinceridade do amor de uma Amizade verdadeira, quer por estarmos vivos… Sempre dei muito valor ao momento presente, pois tenho consciência de que ele é tudo o que temos de verdadeiro, uma vez que as lembranças não existem além de nossos neurônios, e o futuro… quem pode dizer? Então de real mesmo, apenas o agora. E vejam como fiz bem, pois agora não tenho isso que estou recordando, mas que graças a Deus dei o devido valor na ocasião, pois era o momento a realidade.
Cabral, Nazira, Leda e Didú
Outro fator que vejo claramente é a valorização do Restaurante como uma “Experiência”, essa sempre foi uma queixa de chefs de modo geral, começou lá atrás com o Laurent Suadeau quando fechou seu último restaurante, me lembro que encontrei com ele na inauguração do Piselli do meu Amigo Juscelino Pereira e o Laurent estava lá e conversamos. Quando perguntei a ele por que havia fechado seu restaurante ele disse: “ Didú, eu cansei sabe, o brasileiro não vai a um Restaurante para uma experiência gastronômica, ele vai para comer. Ora, comer você come em casa, faz qualquer coisa. Um Restaurante não é para isso…”
Sempre me lembro disso e é a pura verdade. Hoje, com essa experiência forçada da quarentena, tenho absoluta certeza de que as pessoas passarão a se dar conta do prazer que é ir a um Restaurante provar uma receita típica, uma inovação, uma releitura, um prato tradicional mas demorado e super elaborado. Ou seja uma Experiência gastronômica.
Até lá… paciência e Força. Estamos em guerra e muitos ainda não entenderam isso.