A Roda de Aromas.
Uma das coisas que me chamou a atenção quando comecei no vinho profissionalmente na década de 90 do século passado, foi conhecer a Roda de Aromas.
A Roda de Aromas foi desenvolvida pela Ann C. Noble, nascida em 1931, ela era uma química americana especializada em análise sensorial e enologia. Ela foi a primeira mulher a ser contratada em 1974 na faculdade do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Davis na Califórnia.
Essa química inventou em 1984 a “roda do aroma”, que ajuda especialistas e novatos a provar o vinho para melhorar sua capacidade de reconhecer os diferentes aromas presentes nos vinhos, agrupando-os em diferentes categorias, de acordo com uma terminologia que descreve o vinho. Ela foi aposentada em 2002 pela Universidade da Califórnia.
Um trabalho muito interessante e que hoje faz parte de todos os estudiosos do assunto. Há diversas delas na internet, basta dar uma “googlada” aí que você encontra inúmeras.
Uma coisa importante para quem quer comentar direito os aromas de um vinho é tratar-se pela raiz dos aromas. Para dar um exemplo, quando se nota por exemplo relva cortada, ela pertence ao grupo de ervas frescas e a raiz que deve ser mencionada é aroma Vegetal.
Mas na boa, eu considero isso uma coisa de profissionais, que não é o nosso caso que somos “Enófilos”, aqueles que gostam do vinho e que estudam o vinho por prazer. Poucas coisas são tão arrogantes ou presunçosas do que rebusacadas descrições de aromas de um vinho. Deixe isso para os Sommeliers.
Inclusive, devo lembrar a você que nossas memórias olfativas normalmente não estão descritas nas rodas de aroma, por exemplo Jabuticaba, Caju, Banana, para não dizer da gaveta da casa da sua avó, ou das luvas de cetim que minha Mãe usava quando ia `a ópera…
Outro ponto é que as tipicidades de cada casta se alteram conforme a latitude, a altitude, o tipo de solo, a idade das vinhas, o estilo do produtor, etc.. o chamado “Terroir”, a uva é um dos componentes.
Um dos vinhos que mais me deu prazer na vida de quase 30 mil vinhos degustados, foi um Pinot Noir de Granada do Barranco Oscuro, que hoje faz parte de minha coleção de Candelabro Ubriaco, que não tinha absolutamente nada da tipicidade da casta original borgonhesa e nem encontrava paralelos para o que sentia na taça, coisas como moringa, rojão recém estourado, estrume de cavalo seco… e o vinho era de vinhedo que nunca viu agrotóxico, de fermentação espontânea e sem adição de SO2. E se separasse dez vinhos na minha vida um seria ele certamente…
Por tanto, o mais importante no vinho é seu prazer. Procure encontrar nos aromas do seu vinho os aromas da sua memória olfativa. Eu sempre digo que os aromas e fragrância dos vinhos me dão tanto prazer, que se eles embriagassem eu nem beberia do vinho…
Aliás, você sabia que Fragrância é o nome que se dá a cheiros de produtos de perfumaria, que não são comestíveis e que Aromas são os cheiros de coisas comestíveis? Pois é… descobri isso ao acaso quando no início deste século resolvi publicar um livro e junto com ele um estojo de aromas do Vinho.
O livro já se esgotou em algumas edições, mas depois fiz uma versão em áudio-livro que você ainda encontra na internet. Naquela ocasião procurei minha Amiga Sonia Corazza, que inclusive prefaciou o livro para mim, ela e o Istvan Wessel, para que me ajudasse no desenvolvimento desses aromas. Afinal a área dela é cosmética. Ela então me apresentou o Jean Luc Louis Marie Morineau que nos ajudou na descrição técnica dos aromas que eu falava e fomos testando.
O Jean Morineau tem uma memória olfativa de mais de 8 mil diferentes aromas e fragrâncias!!! Imaginem isso. E mais, ele sente o cheiro e escreve a fórmula dele!!
Bem, mas por que estou falando isso, por que aprendi então essas diferenças, pois para chegar no cheiro de Manteiga, aprendi que era Aroma, pois era comestível. Acontece que isso também me criou um enorme problema, uma vez que para montar meu estojo de aromas eu precisava de um indústria que o embalasse e para isso uma licença da Anvisa. eu detesto a Anvisa, por sua burocracia.
Imaginem que a Anvisa nunca autorizou o meu estojo, pois não entendia ser possível um produto que tinha aromas e fragrâncias e que não era nem para comer e nem para se maquiar ou perfumar… hahahahahahahaa Eles simplesmente não entendiam que era apenas para cheirar…
Inclusive sempre brincava em palestras onde vendia os livros que não era para as pessoas encherem um copo long-drink com cubos de gelo, vodka e as essências para beber… hahahahahaaa
Na ocasião a Sonia que é um doce de pessoa me deu de presente todos os ingredientes e tubos de ensaio e toda uma parafernália de laboratório e me disse: Didú só tem uma saída. Faça você mesmo e escreva no estojo dos aromas se tratar de amostra grátis…
Foi assim que por dois meses a sala de jantar de casa se transformou em um laboratório de perfumista e Nazira e eu embalamos 24 mil frascos de aromas e fragrâncias para montar os estojinhos… Nunca mais.
Mas o importante disso tudo que queria dizer a vocês é o seguinte. Curta seu vinho, esqueça os critérios técnicos de rodas de aromas ( a menos que queira se tornar um profissional do Vinho…), curta a sua roda de aromas de sua memória olfativa e divirta-se com o vinho. O vinho foi feito para nosso prazer. Saúde!!