O Vinho não precisa de Sectarismo.
Se há uma coisa que o vinho não precisa é de sectarismo. Hoje o mundo do Vinho parece dividido entre as pessoas que defendem como uma cruzada os Vinhos Biodinâmicos e os Naturais e outros que criticam como premissa esses vinhos.
Como numa réplica inútil e triste do que acontece em política com direita e esquerda e suas trincheiras. Acho isso uma tristeza e acima de tudo uma grande ignorância. Ignorância em seu sentido mais puro: Ignorar.
Outro dia perdi a paciência e sai de uma live fechada no Zoom a convite da minha Amiga Fernanda Fonseca que adora os vinhos Naturais, onde ela entrevistava o famoso Gérard Margeon que é o Chef- Sommelier do famoso Alain Ducasse.
Gérard Margeon e Alain Ducasse
Ele é o responsável pela seleção e a gestão das cartas de vinho de 26 restaurantes do grupo Ducasse, espalhados por sete países! Imagine que antes dessa pandemia, a adega do restaurante Plaza Athénné acomodava 40 mil garrafas!
A razão de ter deixado a live foi a resposta irônica que ele deu a Fernanda que lhe perguntou o que achava dos vinhos Naturais. Ele perguntou de volta com ironia o que seriam vinhos naturais. A Fernanda então lhe disse, os vinhos de vinhedos no mínimo orgânicos, que são vinificados com suas próprias leveduras e que não sofrem adição de SO2. Pois o sr. Gérard Margeon me sai com o seguinte comentário. ” Sei, os vinhos naturais são aqueles que o produtor larga lá e sai de férias…”
Alô?.. Heim?… Como?… Sr. Margeon, me desculpe, mas isso seria o mesmo que dizer que sua carta oferece vinhos com venenos e falsificação de sabores…
Saí para evitar polêmica, pois isto está errado e um profissional dessa estatura “secondo me”, não pode por sua posição e influência falar uma bobagem desse tamanho e nem incentivar um sectarismo ignorante.
Colocar na mesma cesta vinhos naturais mal feitos por incompetentes que se aproveitam do modismo com alguns dos melhores vinhos produzidos no planeta, é o mesmo que colocar vinhos convencionais maravilhosos na cesta dos vinhos industriais de volume que abusam de todo tipo de agrotóxicos que estão matando a terra e usando alguma das 320 leveduras com gostos de outro lugar e abusando de oak chips para dizer que passaram por madeira, além de insumos químicos na adega…
Para que isso? Qual o objetivo? Não consegui entender. E ainda mais por saber que ele trabalha para uma pessoa como Alain Ducasse que prima pelo terroir em seus cardápios, o respeito a origem e ao natural, que tem sua chocolateria Le Chocolat Alain Ducasse, impecável em Paris com chocolates de origem. E ainda saber que o sr. Gérard Margeon pretende produzir um vinho na Grécia que represente o Terroir!!!??? Como discutir Terroir sem o uso da fermentação expontânea? O sr. Gérard Margeon conseguiria defender isso?
Me desculpe sr. Gérard Margeon, o sr. não precisaria dessa postura arrogante, sectarista e equivocada para defender sua carta de vinhos, ou para dizer que tem dúvidas sobre os vinhos Naturais. O sr. foi deselegante, injusto e mostrou desconhecimento. Feio.
Como Sommelier que é deve saber que a maioria dos bons vinhos biodinâmicos são também Naturais. Os vinhos do Clos de La Coulée de Serrant vendidos na França por exemplo não têm acréscimo de SO2, demoram muitas vezes seis ou sete meses em fermentação, não sofrem adição de absolutamente nada além de cuidados sérios, naturais e trabalhosos nos vinhedos, com os conhecimentos e práticas biodinâmicas, que lhe garanto, são a maneira mais inteligente de ser orgânico. O mesmo podemos dizer de uma infinidade de vinhos que o sr. deveria ter ao menos conhecido. Ficou feio isso Gérard.
Quer dizer que nas cartas dos endereços Ducasse não podemos esperar encontrar vinhos como Clos de La Coulé de Serrant, ou o Pupillan do Pierre Overnoy, do Pierre Frick, do Ganevat, Prieure Rock, Le Puy, Alice et Olivier de Moor, apenas para citar alguns e de seu país. Afinal a lista de vinhos de verdade, sem maquiagem, livres e sinceros é enorme e cresce cada vez mais, graças a Deus.
Quero deixar ao sr. Margeon, a título de contribuição, um vídeo que o Beto Duarte fez recentemente com o Jean-Michel Deiss (acho que o sr. também não deve ter em suas cartas não?…), a respeito de terroir de ser vigneron de verdade, limpo, sério, puro e sincero. Quem sabe lhe ajude em seu projeto na Grécia.
Fica aqui meu protesto de alguém que não é sectário, que defende o Vinho, que consome todo tipo de vinho, mas que não tolera a arrogância e injustiça.