Chablis! Chablis!! Que saudade de Chablis!!
Hoje é dia de enfiar a mão no bolso e degustar algo realmente relevante… que tal? A razão? Ora, estamos vivos!! E precisamos ter confiança e assim nada melhor do que brindar a coisas incríveis que o ser humano conseguiu, há inúmeras, mas eu escolhi um Grand Cru de Chablis como o Vaudésir… de Jean – Paul & Benoit DROIN
Eu fiquei surpreso ao saber que na Bourgogne existem 635 Premier Cru (ótimos vinhos) e apenas 33 Grand Cru (excelentes vinhos, a mais alta qualificação), sendo que 32 deles estão nas Côtes de Nuit e Côtes de Beaune e apenas 1 Grand Cru em Chablis!
Esta parcela de Grand Cru em Chablis tem 104 hectares e está dividida em 7 “Climat” diferentes! São eles: Les Clos, Vaudésir, Valmur, Les Preuses, Bougros, Blanchot e Grenouilles. Juntos eles produzem apenas 3% dos vinhos de Chablis e são o crème de la crème da região.
Muita gente não entende o que é um ” Climat ” eu mesmo não entendia até fazer esta viagem e ter a aula que tive com o excepcional Eric Szablowski, ele explica que se trata de uma especificidade de um mesmo Terroir. Acontece que mesmo dentro de um Terroir específico, há diferentes tipos de sub-solo e de exposições e altitudes. então você pode ter num determinado ” Climat ” um sub-solo com maior presença de calcáreo ou de marga argilosa que outro. Um tem digamos meio metro de camada de marga argilosa e outro 1 metro de calcáreo, isso muda tudo. Inclusive eu pude degustar (isso custa caro), vinhos de um mesmo ano dos 7 ” Climats” do Grand Cru de Chablis lado a lado, com a explicação do Erick Szablowski e eles são diferentes! Excepcional isso. Inesquecível.
Bem, mas estou colocando a carroça diante dos bois… o fato que queria mesmo contar é que estou morrendo de saudades de viajar e fico aqui lembrando de onde fui e o que bebi e comi e como aproveitei essa vida fantástica que Deus me achou merecedor…
Entre essas viagens está Chablis. Foi um convite da Comissão de Produtores da Região e da Sopexa e quem coordenou foi a minha Amiga Caroline Putnoki da Cap Amazon. Estavam no grupo o Horst Kissman, o Eduardo Milan e o Renato Frascino. Para nos acompanhar o simpático Carlos Spilak que era nosso intérprete.
Chablis é minúscula e os produtores mantêm um hotel e um restaurante super qualificado na cidade para hospedarem os compradores de toda parte do mundo. Falo do Hostellerie des Clos, no coração de Chablis. Eu gravei um vídeo para você ter uma idéia…
Minha ligação com Chablis vem de antes de eu nascer… eu explico, sabem qual era o nome da minha Mãe? Yonne. Pois bem, Yonne é o nome do rio que corta Chablis e nome do Departamento nº 89 que é uma unidade política que reune vários municípios. O nosso intérprete explica isso direito aqui…
Por tanto minha alegria em estar lá era dobrada, minha Mãe que não era francesa e muito menos de lá tinha aquele nome, não poderia ser ao acaso isso… hahahaha
Bem nossa visita contemplava entre tantas coisas, uma aula com um cara simpaticíssimo que é enólogo e montou um escritório de cursos e turismo em Chablis. Nós tivemos a sorte de estar com ele por dois dias e eu gravei algumas coisas fundamentais que quem quer saber mais de Chablis precisa ver. Por exemplo, Como é Chablis e seus números:
Explicando o Terroir de Chablis e seus diferentes tipos…
Explicando o Climat que o nosso intérprete insistia em traduzir por clima… compreensivo para quem não é do vinho…
Explicando o extraordinário Exogyra Virgula…
O encanto de Chablis é inacreditável. E há uma curiosidade que me liga ao vinho escolhido aí de cima. Imagine que esse produtor é dono de quase todo o sub-solo de Chablis!… Isso mesmo. lá há um proprietário do sub-solo e outro proprietário da superfície!! Nós andávamos por sua cave e ele ia apontando para o teto e dizendo, aqui é a Prefeitura, aqui o Banco, aqui é a Farmácia, alí fica o Bar do fulano, alí a Padaria… hahahahahaaaa. incrível.
Lá em Chablis acontece algo extraordinário, a carta do excelente restaurante do hotel tinha safras antigas dos vinhos, ao mesmo preço das safras recentes. Quando perguntei a razão disso ao Benoit ele contou que o Chablis é um vinho que evolui extraordinariamente bem, mas que não muda nada nos primeiros 9 anos então os consumidores se cansaram de esperar e se habituaram a degustá-lo jovem mesmo…
Bem, sempre que visito produtores conto de forma meio malandra, do meu gosto por vinhos com idade, evoluídos e tal. Isso para ver se consigo provar alguma garrafa rara. Eno caso deste produtor cuja família está lá em Chablis desde 1620!, e têm cerca de 200 mil garrafas de diversas safras… não deu outra, ele abriu para nós uma garrafa do Grand Cru do Climat Grenouilles de 1973!!! Eu gravei isso. Assim que cheguei ao hotel liguei para a Nazira para contar a ela, afinal essa safra era do ano em que nos conhecemos e nos apaixonamos perdidamente… como esquecer Chablis, como esquecer um Grand Cru?…
Nessa ocasião da viagem 2012 estava rolando aqui no Brasil a questão das Salvaguardas e eu estava absolutamente indignado com o que se fazia para atravancar a importação do vinho e então aproveitei a disposição e juventude do Benoît para lhe perguntar o que achava dessas barreiras restritivas, veja o que ele disse…
Entre 50 países que ele exporta, o Brasil é o nº 1 em burocracia.
Visitamos diversos produtores, abaixo alguns destaques como o simpático Alain Geoffroy, veja que figura adorável, ele tem garrafas de 1919… eu duvidei mas ele não entrou na minha… hahahahaa
Depois nós compramos uns vinhos dele e queríamos que ele assinasse a a garrafa, mas já estavam embaladas então ele disse, não é problema, eu assino a caixa… hahahahaha eu cheguei no Brasil e recortei a dedicatória dele e está colada em minha adega entre outras recordações desse mundo incrível que é o mundo do vinho…
Aqui Alain Geoffroy assinando a nossa caixa…
Bem, nisso descubro na conversa que ele começou a juntar saca-rolhas que gostava e isso virou mania e acabou virando uma mania de juntar outros objetos ligados ao vinho e ele então montou um museu!!!
Veja o Museu de Alain Geoffroy
Bem, nesse circuito havia de tudo, inclusive alguns “stars”, caso do Vincent Dauvissat, blasé e com certo desprezo pela visita, mas abriu belas garrafas para nós… veja as condições de sua adega, com chão de terra e mofo por todo lado, é assim o artesão de vinho, aquilo faz parte de sua personalidade e de seu DNA, aquelas leveduras alí fazem TODA diferença. Se o MAPA fosse lá acabavam com Chablis… hahahaha o nosso ministério da agricultura não entende NADA de vinho artesanal… uma vergonha.
O talentoso e blasé Dauvissat
Estivemos também no Château de Beru, um lugar lindo e uma pessoa Athenais simplesmente sensacional, biodinâmicos e vinhos extraordinários.
Inesquecível viagem. E as comidas então?… Há duas coisas típicas em Chablis, o queijo Epoisses e as Andouilletes… ambos de aroma fortíssimo. É do tipo ame-o ou deixe-o…
A harmonização deles com os vinhos da região é algo simplesmente estupendo…
As andouilletes então… têm um cheiro muito forte, trata-se de um embutido tipo salsicha branca feita com intestino de porco e partes de miúdos eventualmente também de vitela e de cordeiro. Nós passamos em frente de uma charcuterie que estava preparando e o aroma nas ruas separava os amantes da iguaria dos que repugnavam o cheiro… eu adorei e trouxe algumas em conserva na ocasião… Aliás vejam aqui uma pequena La grande bouffe..
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E lá eles têm um hábito que aqui no Brasil, esboçou a acontecer mas não emplacou, falo do Café Gourmand. Um show, veja:
Uma curiosidade também nessa viagem foi que uma noite resolvemos sair para andar pela cidade depois de um jantar pantagruélico desses convidei os amigos para caminhar pela cidade que se resume na verdade a uma avenida meio curva e algumas travessas… Não se via viv’alma como diria o poeta!… Para não mentir, havia sim, um casal numa mesinha de um bar… inclusive uma cena de filme de Hitchcock, uma janela com luz acesa e uma senhora olhando, assim que nos viu fechou logo a veneziana e nos olhava só pelas frestas… hahahaha
Acontece que aos domingos, há uma feira nessa avenida onde se encontra de tudo, pães, queijos, patos e gansos vivos, andoillletes, boudin noir sendo preparados na hora, tudo ao ar livre, roupas, biscoitos, etc., eu adorei e filmei para você ter uma idéia.. Divirta-se:
Outro ponto alto da visita foi conhecer o casal excepcional Alice et Olivier de Moor, graças ao pedido do Edu Milan, fomos conhecer o casal artesão. Chegamos lá e eles simplórios nos disseram: “… mas por que vocês quiseram nos visitar?…” hahahahahaaa veja que super show. Vinho que poderia beber até o fim da vida…
Devo confessar aqui que degustar seu Aligoté e ouvi-lo contar sua história e explicar seus rótulos que ele próprio desenha, me tirou lágrimas de emoção… Aliás o Renato Frascino trouxe o poster desse rótulo…
Bem… havia contrastes também como a visita a gigante Chablisienne onde na entrada gravei um vídeo com nosso grupo, veja:
Chablisienne a Cooperativa de Chablis
Eu vinha de uma recente experiência no Brasil com o Monsieur Georg Riedel explicando toda a ciência por trás de um formato de uma taça para realçar melhor os aromas de determinado vinho, onde ele sentenciou que as taças são alto -falantes dos aromas de um vinho… e chego lá e não vejo ninguém, absolutamente ninguém usando uma taça de chardonnay para servir seus vinhos… não aguentei e perguntei…
Chardonnay em taça de Sauvignon Blanc…
Outra visita inesquecível foi a Maison Laroche, um espetáculo a parte, dentro da cidade e inclusive com uns apartamentos para hospedes, coisa espetacular… inclusive uma prensa do século XIII, ainda em funcionamento!
Visita ao Domaine Louis Moreau
Domaine Fourrey
Domaine Defaix
A visita a Jean Marc Broccard foi excepcional, pois eles têm uma sala de degustação escavada e coberta de vidro, mostrando as fatias de camadas dos tipos de sub-solo. Muito didático e que deixa claro a questão dos Climat que comentei acima e o Erick Szablowski explicou.
Jean Marc Broccard
Bem, parece que acabou mas não… nós ainda fomos fazer uma visita ao belíssimo povoado vizinho a Chablis, Noyers-sur-Sereine onde jantamos no espetacular Les Millésimes a convite do Comitê dos Produtores de Chablis… Mon Dieu…
E simpático Sommelier Pierre Paillot da Maison Paillot e do Resaturant Les Millésimes, na Place de l’Hôtel de Ville, nª 14 na cidade Noyers-Sur-Serein pertinho de Chablis e sua aguardente de ameixas que é servida na xícara do café depois de bebido o café, com um torrão de açúcar… eu não queria sair desse lugar…
Pierre Paillot amigo do Jonathan Nossiter
Não faltou uma visita de cunho religioso, Nós visitamos a Abbey Potigny dos Monges Cistercienses que fizeram voto de silêncio. E como na ocasião ninguém se pronunciava sobre as tais salvaguardas… apenas o Ibravin falava em nome de todos e o didú provocava, eu fui acender uma vela para pedir o bom senso no setor. Fui ouvido e minha fé aumentou. As salvaguardas foram retiradas…
Então assim termina nossa visita a Chablis meus Amigos… Espero que tenham gostado. Saúde!!