Candelabro Ubriaco
Essa garrafa do Sperss do Gaja compunha uma enorme coleção de garrafas autografadas que faziam parte do meu “Candelabro Ubriaco”. Como adoro luz de velas e aqui na Granja Viana, agora menos, mas caia muito a energia, eu tinha sempre a mão essas garrafas que colecionava com carinho de gente famosa, grandes personalidades do vinho que eu pedia para assinar a garrafa.
Acontece que com o tempo as garrafas se acumularam, foram mais de 200 garrafas assinadas e cada uma com uma vela que se acumularam, ainda na outra casa que era enorme e onde os tres filhos moravam junto…
Um belo dia a Nazira se encheu daquilo e disse para eu me livrar delas, pois nossa casa estava parecendo um depósito de coisas velhas… tinha razão. A essa altura, os meninos já estavam debandando de casa e o Gibran (o Viking) levou a maioria delas e as restantes levei para o lixo seletivo do Pão de Açúcar onde chamei o atendente de vinhos da época e mostrei o que estava jogando fora, caso ele tivesse vontade de pegar algumas preciosidades… Segurei umas poucas que ainda tenho com o mesmo fim. Cheguei a fazer um vídeo delas antes de me desfazer mas não encontrei esse vídeo.
Como bem lembra Hugh Johnson no prefácio do livro “1001 vinhos para beber antes de morrer, de Neil Becket, que ganhei da Lis e do Ramatis neste Natal de 2013, “Não existem grandes vinhos, apenas grandes garrafas de vinho”, a frase que parece não ter autor reconhecido e se perder no tempo dos apreciadores de vinho, é um grande consenso.
Muitas vezes uma garrafa de uma mesma safra de um mesmo vinho e ainda de uma mesma barrica, pode estar maravilhosa e outra medíocre.
Diversos fatores podem levar a isso, engarrafamento, rolha, armazenagem, transporte, guarda, etc., mas há ainda os motivos fortuitos como o caso da garrafa de um vinho branco simples de nome Locorotondo, que bebi em companhia da Nazira quando viajei para Sapri, a cidade ao sul da Itália de onde meu pai saiu para vir fazer a América e nunca mais voltou.
O Locorotondo acompanhado de uma pizza de mozzarella na Piazza del Plebiscito praça central da cidade, numa pizzaria simples que a própria ” famiglia” cuidava, em baixo de um céu indescritível, estava simplesmente espetacular. Era o destino daquela garrafa me dar aquele prazer. Duvido que outra garrafa desse vinho estivesse tão bom quanto aquela. Vinhos assim nem se recomenda, pois será certamente um desapontamento ao bebedor.
Bem, esta garrafa de Sperss em questão tem história…
Quando conheci o Angelo Gaia, aliás foi no mesmo dia em que conheci o Luiz Horta, na porta do Pomodori e chagamos antes da hora… me apresentei e ficamos amigos na hora, nos reconhecemos. Era um almoço que o ciro Lilla oferecia a imprensa para comunicar que Gaja a partir daquele momento era da Mistral, onde está até hoje.
Me lembro que numa daquelas situações em que as palavras pulam para fora da minha boca sem que meu cerebro reprove… perguntei ao Angelo: Por que o sr. saiu da Expand?… (imagine não?… absurdo uma pergunta dessas, mas saiu…) e ele diretamente me diz: Por que o Otavio não me paga… PUUUUÔÔÔUUUMMMMMM.
Bem, naquela ocasião, comprovei por que o vinho italiano deve tanto a este homem. Ele é apaixonado. Impossível alguém não notar Angelo Gaja em qualquer ambiente, ele parece um centurião em terno e gravata. As luzes naturalmente caem nele. Uma postura altiva, segura e simpática toma conta do ambiente. Super show.
Ele é tão focado na divulgação de seus vinhos que é sempre citado como “marqueteiro” de uma forma que considero pejorativa e injusta ao que ele representa para o mundo do vinho, para o vinho italiano e para seus próprios vinhos, pois ele é um grande apaixonado e orgulhoso do que faz, além claro de competentíssimo. Foi certamente um dos se não o grande responsável pela valorização de preços dos vinhos italianos nos Estados Unidos e consequentemente no Mundo.
Tive depois a oportunidade de estar algumas vezes com ele e gravei diversos vídeos. Numa dessas ocasiões, foi num almoço no D.O.M. onde gravei ele contando a história do Darmagi, seu vinho de Cabernet Sauvignon de um vinhedo que plantou escondido do pai… Você pode assistir este vídeo aqui:
Neste dia bebi todas, nada de provar, fui bebendo as maravilhas de Angelo e pedi a ele que me assinasse uma garrafa para incorporar a coleção dos Candelabro Ubriaco. Ele puxou uma caneta do bolso que escrevia no vidro, foi a primeira vez que via uma caneta dessas, fiquei fascinado, era essa garrafa do Sperss da foto.
Quando me despeço dele com um forte abraço e um bacio, desço as escadas e ouço um sonoro “Didú! Didu!!” olho para trás e vejo o Angelo com a minha garrafa nas mãos dizendo: “you forgot la botiglia…” hahahahaaaa estava ubriaco ora.
Há muito material com ele, eu mesmo tenho inúmeros vídeos dele, da filha Gaia e do Filho Giovanni, mas na sequência pincei uns vídeos que considero imprescindíveis para qualquer amante de vinho, pois mostram bem a genialidade do Angelo Gaja… Saúde!!
Em 2011, explicando o marketing dos Mondavi e a razão do sucesso de Parker. imperdível…
Aqui descrevendo a Cabernet Sauvignon como John Wayne e a Nebbiolo como Mascelo Mastroiani… um clássico do Angelo, veja:
Explicando a diferença entre Barbaresco e Barolo: