Eu posso me dizer do Amor que tive…
Nazira descansou depois de dois anos de uma luta exemplar contra um câncer que insistiu em lhe maltratar. Tentamos e conseguimos levar da melhor maneira possível. Nós decidimos seguir seu desejo de não ter aquele martírio de velório e de missa de sétimo dia, que maltrata demais a família. Considerava e nós também, um sofrimento sem o menor sentido, um elogio da dor, da tristeza, quando na verdade ela teve uma vida linda, alegre, feliz.
Ela foi cremada e algum dia jogaremos suas cinzas em Ilhabela, lugar que marcou muito nossas vidas. Tive o privilégio de viver com essa mulher que foi minha Companheira, Amante, Amiga, Donna mia, mulher que deu sentido a minha vida, parodiando o Caetano Veloso, a Nazira foi meu vinho, meu vício, desde o início. Meu bálsamo benigno, meu signo, meu guru, meu porto seguro onde eu tinha meu mar e minha mãe, meu medo e meu Champanhe. Uma visão do espaço sideral, onde o que eu sou se afogava. Meu fumo e minha ioga, Nazira foi minha droga, paixão e carnaval. Ela foi meu zen e meu bem…
Essa mulher linda de um coração enorme, uma generosidade rara, de muita luz. Sua alma mais linda ainda. Cozinhava como ninguém e adorava receber. Nunca alguém ficou sem colo, atenção ou carinho da Nazira. Ela me apoiou em tudo que fiz na vida. Tudo, as coisas boas e as erradas, os acertos e os erros, sempre, sempre esteve ao me lado e curtimos a vida adoidados, como dois beatniks doidões sempre, brindando a vida como Deus, acredito, esperava de nós…
Ela vivia dizendo que tinha cumprido sua missão que era me dar os três filhos… E realmente me deu os melhores três filhos que poderia imaginar, que me deram netos maravilhosos e nos encheram de carinho e mimos. São pessoas extraordinárias comigo.
Esta experiência de lidar com a morte, que é uma merda total, é algo muito forte e todos vocês sabem, pois já passaram pela experiência de perder alguém que não se quer perder nunca. Vem aquela energia enorme que não cabe dentro de seu corpo, que você tenta racionalizar com todo o conhecimento que tem e não dá. Simplesmente não dá. A coisa irrompe e sua estrutura não suporta e o pranto vem e vem e vem e não adianta nada. Alivia mas a dor é enorme. Vivi com a Nazira quase o dobro do tempo em que vivi sem ela… como fazer agora? Sou meio Didú, pois ela fazia parte de mim. É um enorme desafio que a vida me impôs.
Sei que ficarei bem, pois tenho o apoio dos filhos e dos amigos, que são muitos e bons. Me desculpo com os que não atendi ao telefone e nem respondi as mensagens pois simplesmente não conseguia. Mas quero agradecer de coração a todos vocês que rezaram por ela, que fizeram mandingas por ela, que vibraram por ela e que nos apoiaram.
Sei que de tudo ao meu Amor eu fui atento antes e sempre e tanto… e isso me acalma muito o coração.
Espero que tudo que a Nazira acreditava seja verdade, pois assim ela agora estará com seu irmão que ela tanto gostava e que se foi muito cedo, e com quem sempre esperou se reencontrar, estará com seus pais, tantos amigos e amigas, que se foram e certamente foi recebida com palmas por seu desempenho, em uma festa com direito a orquestra do André Rieu e taça cheia. Por que não?… E, claro, esperar por mim daqui uns oitenta anos… Como foi linda nossa vida juntos. É disso que quero recordar e agradecer.