Poesia. Vem aí um Syrah de Jundiaí.
Uma semana antes de minha viagem a Espanha, que estou contando aos poucos aqui para vocês, eu recebi dois vinhos da Vinícola Castanho de Jundiaí. Um é um Syrah, que o rótulo está aí em cima e que ainda será lançado, e que chamo a atenção para a poesida no contra-rótulo, lindo. O outro um Merlot – Tannat (abaixo), que já está no mercado e que está Abaixo de 50 Paus!
Eu me comprometi a experimentar os vinhos na volta de minha viagem e assim fiz. Na ocasião escrevi para a Castanho para saber mais detalhes dos vinhos, cultivo, leveduras, etc., e recebi de volta um educado e-mail que reproduzo para vocês:
Bom dia Didú,
Meu nome é Ricardo, sou filho do João. Em nome dele e toda família gostaria de dizer que para nós é uma alegria imensa poder ver nosso vinho nas mãos de um profissional tão dedicado ao mundo do vinho e que valoriza o vinho brasileiro.
Nossa vinícola foi fundada em 1968 pelo meu avô Aristides, nos últimos 50 anos produzimos vinho aqui em Jundiaí. Atualmente meu pai é o enólogo, meu irmão Gustavo é responsável pela agricultura e eu fico encarregado da administração.
Sempre produzimos vinhos de mesa, da variedade bordô, porém nos últimos 7 anos estamos nos aventurando com as vitis. O Luar Merlot-Tannat foi um dos nossos primeiros rótulos da linha de vinhos finos, nossa ideia foi elaborar um vinho mais leve, frutado, com pouca madeira e fácil de beber, para que pudesse ser uma transição para aqueles que estão começando a apreciar os vinhos secos, pois na época 90% de nossas vendas eram de vinhos doces.
Nós ainda não temos a certificação de produto orgânico, mas estamos trabalhando para isso, nas últimas safras estamos adotando novas práticas para reduzir e até mesmo eliminar o uso de produtos químicos na lavoura.
Para a fabricação dos vinhos de vitis utilizamos leveduras da francesa Laffort. Em especial para o Poesia, optamos por um tipo de levedura que favorece a longevidade do vinho, garantindo mais estrutura para o suportar o período de guarda.
Falando um pouco sobre o Poesia, em 2015 tivemos a ideia de fazer um vinho mais elaborado, que pudesse mudar um pouco o conceito de que nossa região somente produz vinhos de mesa. Decidimos apostar na Syrah pelo seu potencial e adaptação ao nosso clima. Em 2018 tivemos uma boa safra no verão e optamos por fazer um vinho mais estruturado. Utilizamos barricas de carvalho francês de 1º e 2º uso por 10 meses.
Este vinho ainda não está no mercado, pretendemos iniciar as vendas somente em agosto, para que possa completar um mínimo de 18 meses de maturação.
Quanto ao “Gran Reserva” nos baseamos na Instrução Normativa nº 14 de 2018 do Ministério da Agricultura que, finalmente, oficializou a nomenclatura dos vinhos nacionais. No art. 30 diz:
“§ 3º Gran Reserva:
I – quando o vinho tinto, com graduação alcoólica mínima de 11% (v/v), passar por um
período mínimo de envelhecimento de dezoito meses, sendo obrigatória a utilização de recipientes
de madeira apropriada de no máximo seiscentos litros de capacidade por no mínimo seis meses;”
Enviamos esta garrafa, antecipadamente, pois acreditamos muito na sua opinião. Eu acompanho seu trabalho no youtube e instagram, já assisti a quase todos os vídeos!
Desejo uma excelente viagem à Espanha, e nossa vinícola estará sempre de portas abertas para o senhor!
Atenciosamente,
O Estado de São Paulo tem um potencial enorme para o vinho fino, estudos da Embrapa apontam que 94% de todo o Estado tem clima e solo propícios para o cultivo da vitis-vinífera. Exemplos de sucesso não faltam, basta citar o entre Villas, de São Bento do Sapucaí, que produz vinhos orgânicos e naturais e vende tudo em seu próprio restaurante, uma preciosidade, a Guaspari com vinhos convencionais vem arrebatando prêmios que nenhum vinho gaúcho ganhou até hoje. Isso para ficar em apenas dois exemplos.
A realidade do mercado porém ainda é do vinho de mesa, do vinho meio doce, hábito muito arraigado no consumidor comum brasileiro, basta você visitar São Roque para comprovar isso. São mercados complementares, sem dúvida, mas eu fico feliz de ver essa nova geração de produtores, olhando o futuro e investindo numa mudança que é irreversível, a do vinho fino. Caso da Castanho que vem apostando nessa mudança e fazendo bem feito. Eu gostaria muito, que logo seus vinhedos se tornassem orgânicos totalmente, não considero importante o certificado não, considero importante não usar químico na terra ou na vinha, gostaria também de ver vinhos Castanho com as leveduras indígenas, elas são o DNA do vinhedo, o DNA de Jundiaí, e então terão um vinho inimitável. É nisso que acredito como futuro para o vinho. Um vinho que traga engarrafada a sua paisagem e que fale com seu verdadeiro sotaque e com orgulho. Um vinho caipira sim senhor. Parabéns amigos da Castanho! Sucesso!!