Vinho Verde. Você deveria beber mais dele.
Sou grande apreciador dos Vinhos Verdes. Estive lá anos atrás e foi uma das maravilhosas viagens que o Mundo do Vinho me proporcionou. Você pode ficar um pouco confuso com os Vinhos Verdes, pois afinal de contas, a mesma Comissão e Denominação abrigam vinhos completamente distintos.
Há os Vinhos Verdes mais conhecidos, aqueles que têm “agulha” e há os Vinhos Verdes Alvarinho, sem agulha e que são vinhos de mais classe e superiores, que podem e merecem ser guardados e bebe-los evoluidos, Ganham excepcional complexidade aromática e untuosidade que superam de longe o que perdem em acidez.
Hoje, a convite da CVRVV Comissão Vitivinícola da Região dos Vinhos Verdes, (não deixe de visitar seu site, pois há tudo lá, site bem feito, muito explicativo e uma aula grátis sobre Vinho Verde), no restaurante Tasca do Arouche, que não conhecia, que é muito gostoso e que fica dentro do Hotel San Michel, do meu amigo Rafael Jafet que está firme e forte.
Foram servidos diversos vinhos de estilos diferentes que você pode ver acima e que relaciono a seguir:
- Melodia Branco 2015 do produtor Manuel Costa & Filhos, de Loureiro, Alvarinho e Avesso, com 11% de álcool e com agulha e pequeno residual de açúcar. Se fosse seco teria sido um de meus prediletos.
- Quinta de Azevedo 2014 da Sogrape com 70% Loureiro e 30% Pedernã e 11% de álcool e que chega pela Zahil por R$ 94,00 e foi disparado o preferido do almoço, não só meu mas de todos os presentes. Super show de vinho, complexo, untuoso, fresco, muito mineral, me lembrou um Grüner Veltliner. Recomendo.
- Quinta da Calçada Exuberant 2015 de Loureiro e Alvarinho com 12,5 de álcool, gostoso mas sem a expressão do anterior, talvez pela sequência tenha sido prejudicado. Mas ficou excelente acompanhando o Gaspacho.
- Via Latina 2015 Alvarinho Loureiro, com 11,5% de álcool, muito gostoso, intenso e fresco, veio para acompanhar o bacalhau e foi meu segundo vinho na preferência, embora preferiria um tinto para acompanhar a estruturada e untuosa posta de bacalhau.
- Covela Edição Nacional Arinto 2015 da Quinta da Covela e com 12,8% de álcool, importado pela Winebrands e vendido a R$ 86,00. Estava ótimo e foi o segundo vinho da maioria, mas meu terceiro. Achava os Covela mais frescos e alegres quando eram feitos biodinâmicamente pelo enólogo Nuno Araujo. Hoje a Covela está mais internacional secondo me.
- Adega da Ponte da Barca Adamado 2015 da Adega Ponte da Barca, com Loureiro 70% Trajadura 12,5% e Arinto 12,5% que veio para harmonizar com a sobremesa, uma torta de limão. A harmonização foi meio por contraste, mas o que eu imaginei ser um desastre não foi, o final de boca era agradável e pedia mais. Tinha ligeira agulha e era meio seco, que significa menos doce que o meio doce.
Não quero parecer um chato, mas fico triste em ver o crescente desinteresse dos Vinhos Verdes, nos vinhos com “Agulha” e uma tendência aos vinhos tranquilos. Não há dúvida que os vinhos tranqüilos são deliciosos e com grande potencial e até o que antes era privilégio dos Alvarinho, hoje dá lugar também aos Loureiro que mostram grande classe e finesse.
Para que o leitor possa se inteirar, antigamente a tal “Agulha” pequena borbulha resultado da fermentação do vinho, que promove uma percepção de picância na língua, acontecia naturalmente, pois as uvas eram colhidas antes da maturação ideal para fugir das chuvas e os processos de vinificação levavam a um precoce engarrafamento, normal para vinhos verdes, jovens e frescos, quase um frizante. Com o tempo aprimorou-se as técnicas e conhecimentos enológicos e esses vinhos passaram a não ter a “Agulha” naturalmente e hoje a grande maioria que produz esses vinhos acrescenta gás carbônico.
Devo dizer que discordo totalmente o abandono da “Agulha” no Vinho Verde, seja ela natural ou não. Isso era ponto marcante desses vinhos, imbatíveis nas harmonizações com frituras e com as sardinhas grelhadas e hoje sem as ‘Agulhas ” perdem grande parte de seu charme, de sua personalidade e até de seu frescor. Deixa-o com menos armas na competição mundial ao igualar-se a tantos outros vinhos jovens e frescos, como é o caso dos Pinot Grigio, para citar apenas um exemplo. Lamento e Portesto. Disse isso lá há anos e continuo a dizer. Uma pena para mim.
Outro ponto que insisto e continuarei a insistir é a pouca vontade da CVRVV em promover e divulgar os vinhos verdes tintos. Sei que é um vinho do tipo ame-o ou deixe-o, mas trata-se novamente de outro caso único, com enorme versatilidade em harmonizações. Hoje por exemplo que tivemos dois vinhos para o Bacalhau, um deles poderia tersido um Verde Tinto com aquele seu frescor e tanicidade únicos. Seria a oportunidade de fazer a experimentação por parte dos jornalistas. Muitos desconhecem.
Aliás eu gostaria de ter um almoço com vários pratos para se harmonizar com o vinhão servido na tigela. Quem é que conhece isso no Brasil? Acho importante e forte a divulgação e preservação da cultura, tão intimamente ligada ao vinho. Nosso tutu de feijão, tenho certeza se casaria maravilhosamente bem com um vinhão.
Hoje o que tivemos foi um desfile de vinhos tranqüilos, muito bons, claro, quanto a isso não resta dúvida, porém as duas características dos Vinhos Verdes, os de “Agulha” e os tintos, ficaram de fora.
No caso dos tranqüilos por exemplo, poderiam ter servindo um Alvarinho com idade. Seria elegante e muito promocional, pois poucos sabem que há Alvarinhos com 40 anos de idade, disputados a tapas pelas garrafeiras.
Peço desculpas pela minha sinceridade neste post, mas tenham a certeza de snao construtivas, sinceras e de alguém que ama Portugal e respeita demais sua cultura, tradição e excepcional trabalho dos vinhateiros. Saúde!