Mineralidade. Está interessado em saber?
Outro dia meu amigo Guilherme Correa, um dos melhores Sommeliers brasileiros, hoje vivendo em Portugal, publicou no face um gostoso ponto de vista, com o qual concordo, a respeito desse tema que tem sido razão de boas discussões entre experts. Seu texto dizia o seguinte:
“MINERALIDADE
Em primeiro lugar, percebo e concordo que a videira não absorve a mineralidade geológica do solo até as uvas e consequentemente ao vinho. Ela é capaz de absorver somente pequenas quantidades de íons minerais ou nutrientes, conforme explicam os fisiologistas de plantas, e numa concentração final de aproximadamente 0,2% nos vinhos, não sabem a absolutamente nada. Tive uma formação cartesiana em algumas das melhores escolas de vinho do mundo e isto é muito claro para mim.
Em segundo lugar, paradoxalmente, a mineralidade geológica (das pedras e solos dos vinhedos) existe nos vinhos. Isso é óbvio e ululante. Reconheço, assim como outros sommeliers e provadores profissionais, o solo nos aromas, nos sabores e na textura, mesmo que em provas às cegas. Se o solo fosse apenas um substrato de ancoragem das videiras, que influenciasse apenas na hidrologia, no fornecimento de nutrientes básicos à sua subsistência e consequentemente no seu vigor vegetativo, tanto faz se o Douro fosse assente no xisto ou no granito. Mas sabemos muito bem a gigantesca diferença dos vinhos que nascem no xisto grauváquico da região, e percebemos muito bem essa mineralidade nos aromas e sabores dos seus grandes vinhos.
O fato de a ciência não explicar algo não quer dizer que esse algo inexista, esse é ponto. Não explicamos o Big Bang, mas nem por isso o Universo não deixa de existir. Não sabemos exatamente porque os vinhos dos Açores carregam um poderoso aroma e sabor de pedra-pomes, mas até o provador mais inexperiente consegue sentí-lo. Da mesma forma os aromas de ardósia serrada dos Riesling do Mosel, os aromas de giz de um Chablis, de sílica friccionada de um Pouilly-Fumé, de pedra calcária molhada em uma Vitovska do Carso, de cantos rodados ao sol em um Bordéus, de pó de granito em um Nebbiolo da Valtellina.
Se tudo na vida fosse plenamente explicado pela ciência, ela perderia uma parte do seu encanto, e o vinho, o seu mistério.”
No mesmo post o Arthur Azevedo sugeriu a leitura de uma matéria da Master of Wine Sarah James Evens MW que ele publicou em seu site, veja AQUI
Curiosamente, meu amigo/leitor Rafael Mauaccad me envia um ótimo material do renomado produtor da Alsace, Zind Humbrecht sobre o tema na perspectiva da Biodinâmica. Vale muito ler AQUI
Impressionado com o volume de opiniões e questionamentos entre puristas, apaixonados e cientistas, resolvi escrever para a Jancis Robinson, que dando um show de profissionalismo me respondeu em menos de 24 horas… “Acho que todos nós sabemos o que queremos dizer, mesmo que ainda não entendamos o que causa o fenômeno”, talvez você goste de ler isto e me enviou este link AQUI
De minha parte gostaria de contar uma experiência. Em 2013 fiz uma viagem a Chablis a convite do Comité de Produtores da Bourgogne. A programação incluía uma adorável surpresa, uma aula com Erick Szablowski, um enólogo da região que vive hoje de dar cursos e fazer visitações in loco nos campos da região explicando sobre Terroir e sobre Climat. Sim há Climat também que é uma espécie de especificidade perceptível de um pedaço de um Terroir. Para você ter uma idéia do que eles conhecem seu solo lá, há um 1er Cru chamado Vaillon, onde há identificados e reconhecidos pelo INAO, 6 diferentes Climat!!! Lelis por exemplo é um Climat de Vaillon e o produtor tem o direito de identificar seu vinho como Lelis simplesmente ou como Vaillon (mais conhecido). É muito conhecimento do local.
Vale você assistir a este vídeo que fiz na ocasião onde o Erick explica isso. AQUI
Pois o Erick nos contou que o solo de Chablis, que é formado por argila, pedras calcárias e fósseis de ostras (há 150 milhões de anos atrás a região era coberta por um oceano), chamdo de Kimmeridgian onde se encontram a Exogyra Virgula (não deixe de ver o vídeo: AQUI , têm profundidades diferentes em cada Climat. E conforme a idade da vinha e consequente profundidade de suas raízes, o resultado do vinho é diferente, além do posicionamento e da altitude do vinhedo…
Ele nos mostrou isso no campo e depois nos levou ao seu Atelier, onde degustamos 13 Chablis distintos e explicados em suas particularidades.
Conto isso, pois não interessa a semântica da palavra mineralidade ou se a ciência não encontra a razão científica para esses solos se expressarem diferentemente nos vinhos, mas o fato é que ele existe sim. Aliás uma boa idéia a você entusiasta do tema é uma viagem a Chablis e contratar uma aula com o Erick Szablowski, aqui seu site: www.aucoeurduvin.com
Saúde!!