O que explica o enorme salto na Importação de Vinhos?
Incrível o salto que o vinho importado deu em 2017. Foram 51% em volume e 30 % em valor!!! (Fonte: International Consulting de Adão Morelatto.)
(Importante observar que o vinho nacional se mantém nos mesmos patamares do ano anterior. Apenas suco de uva cresceu. Será por estarem à margem dos clubes de vinhos?)
Fiquei intrigado com esse salto, pois embora importação não quer dizer venda, número que aliás não existe oficialmente no Brasil, o fato é que o salto é anormal.
Desde que escrevo sobre vinhos, a importação de vinho nunca caiu, mesmo em anos de crise. Chegou a apresentar pífios 1%, em volume com pequena queda em preço, mas cair nunca. Porém 54% é para chamar a atenção de qualquer pessoa do setor. O que justifica tanto otimismo do mercado?
Pensando nisso e mesmo tendo minhas opiniões a respeito, fui ouvir algumas pessoas do setor que merecem meu respeito para as quais fiz as mesmas perguntas. Algumas por motivo de viagem ainda não responderam, assim que tiver publico. As questões que apresentei a eles foram:
1) A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ?
2) Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos?
3) O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil?
4) Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência?
5) Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras?
6) Qual sua expectativa com 2018?
Adão Morelatto:
1) A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ?
Devido a minha atividade de Assessoria relacionada a este segmento, tenho identificado e diagnosticado um crescente e contínuo movimento de empresários de inúmeros setores, adentrarem nesta categoria de produtos. Quer seja por puro interesse e prazer enológico ou também como investimento direto diferenciado. Claro que é uma atividade paralela, não é o principal foco destes investidores. Estão mesmo é verificando e observando a longo prazo uma trajetória de crescimento vertiginoso. (AMBEV) é um bom exemplo desta magnitude.
2) Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos?
Devido a suas características e condições tributárias favoráveis e atraentes, estes 2 players foram os grandes responsáveis por esta dinâmica nestes últimos 5 anos. Supermercados com sua capacidade distributiva e volume de negócios contribuem massivamente para esta performance. Atuam diretamente com os produtores, negociando condições favoravelmente vantajosas pelo volume prospectado. Quanto aos Clube de Vinhos, abriram um novo ciclo de negócios, podendo dizer sem culpa alguma, que há um divisor de águas entre o início dos eCommerce e antes deles. Conseguem atender ao público genérico com produtos de qualidade e preços muito competitivos, e com uma diversidade surpreendente. Sem dúvida, estes 2 setores irão crescer por um bom tempo ainda, haja visto os investimentos galgados pelas principais empresas deste setor.
3) O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil?
Este é detalhe importantíssimo. No mundo todo, incluindo os países desenvolvidos, o grosso do consumo está na faixa de USD 10.00. Aqui não seria diferente. Obviamente que nossa impiedosa e absurda carga tributária, impede um avanço maior. Porém o vinho veio para ficar e não me admiraria de que podemos dobrar de tamanho e volume nos próximos 5 anos. A economia está de certa forma estável, com ligeiros crescimentos em alguns setores específicos. E observe o movimento de enriquecimento no interior do país, onde o Agronegócio é punjante e contínuo, é esta classe que irá ditar as regras de consumo nos próximos anos…
4) Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência?
O negócio de vinho com um negócio em si, tem suas características próprias, haja visto sua diversidade e não há nenhuma empresa que possui uma escala de grandeza, seja aqui ou no exterior. Este é um dos setores de negócios mais pulverizados, senão o mais. A mudança é bastante visível, dados as aquisições realizadas por grandes grupos internacionais e também investidores chineses na França. A tendência é de uma maior concentração e de pesados investimentos em marketing, modernização tecnológica e novas fronteiras agrícolas. Tudo isto é positivamente favorável para o crescimento e agrega condições de crescimento deste setor. Como nossa legislação não especifica e tão pouco proíbe a importação de vinhos, muitas enotecas, restaurantes, hotéis, catering, distribuidores e outros setores diversos, vem atuando diretamente na aquisição. Oferecendo a seus clientes uma vasta gama de produtos, com preços atrativos e diferenciados. O universo de empresa importadoras teve um crescimento célere e frenético nos últimos 2 anos, e é muito grande a procura de empresários que planejam embrenhar-se nesta categoria. Nossa consultoria hoje atende aproximadamente umas 132 empresas nesta atividade.
5) Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras?
Lamentavelmente, com o advento dos Clubes de Vinho e das empresas eCommerce, a tendência é de que teremos e isto já é perceptível, uma diminuição expressiva da presença e participação dos grandes importadores, que até então dominavam este ramo. As importadoras buscarão segmentar-se em específicos nichos de negócios, regiões determinadas ou atuar com marcas reconhecidas, de maneira que tenham foco e direcionamento mercadológico mais intrínseco.
Adolar Hermann da Decanter
Adolar Hermann está em convenção da empresa mas fez a gentileza de me falar ao telefone. De modo geral ele pondera o seguinte:
Os números lhe parecem altos demais, uma vez que ele tem informação de 33% de crescimento o que também é bastante.
Entende que não há dúvidas de que a razão desse crescimento vem de web e supermercados.
Entende que nos dois casos a oferta está mais para preço do que para qualidade.
Percebeu que o mercado mudou de verdade. Hoje se vende basicamente os extremos, vinho barato e ícones caros, ele viu um crescimento de 25% em Barolos na sua importadora, o que surpreende. Em contra partida, o vinho de preço médio de R$ 100,00 a R$ 200,00 é que sofre demais.
Seu Clube cresce mas devagar, mas atua num espaço de maior qualidade e perfil do que os clubes que fazem a alegria do preço baixo na internet.
Adolar acredita sim que os vinhos baratos acabarão por incrementar clientes para vinhos de qualidade superior, embora isso demandará tempo.
Acredita que 2018 dependerá muito do caminho político, uma vez que sem segurança não acredita em investimentos. Mas está otimista.
Ciro Lilla da Mistral e Vinci
1) A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ? Aos vinhos muito baratos trazidos por supermercados e sites de internet
2) Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos? Tem o mérito de tornar o consumo de vinho viável para um novo consumidor de menor renda
3) O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil? Acho que sim, embora os vinhos, em grande parte, sejam muito fracos
4) Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência? A grande novidade foram os vinhos muito simples e baratos trazidos por supermercados e alguns sites, mas isso não afetou muitos os importadores tradicionais, que têm as melhores marcas, porque quem já provou e se acostumou com os bons vinhos não aceita mais esses vinhos simples/fracos
5) Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras? Acho, e espero, que sim
6) Qual sua expectativa com 2018? No geral positiva mas acho que a partir de maio tudo vai depender muito do rumo que tomar a eleição presidencial. E espero que os novos consumidores comecem a migrar para os bons vinhos.
Orlando Rodrigues da Prem1um Wines:
A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ?
Creio que houve um efetivo crescimento no consumo, com uma atuação muito forte dos “e-commerce”(e seus clubes de vinho) e dos supermercados. Entre os dez maiores importadores (de out/2016 a set/2017), cinco são importadores tradicionais, dois são e-comerce, dois são supermercados e um é uma excrecência (VCT). Isso parece indicar um crescimento do consumo doméstico de vinho, talvez pelo alto custo dos restaurantes.
Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos?
Esse tipo de empresa não poderia existir nos USA, onde um importador não pode vender direto ao consumidor. Mas no Brasil, com nosso sistema tributário maluco, e com a eliminação de uma etapa na cadeia, acaba sendo uma benção para o consumidor. Creio que isso só não acabará com os importadores tradicionais, porque a seleção de vinhos desses segmentos é muito ruim.
Os clubes de vinho particularmente devem ficar muito atentos, pois a falta de uma boa curadoria pode levar o negócio para o buraco. O consumidor pode aceitar um pacote de vinhos ruim, talvez dois, mas três nunca. E, na medida em que forem bebendo mais vinhos eles vão se tornar cada vez mais exigentes.
O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil?
Sem dúvida. Creio que existe mercado para todos, e no futuro, com a recuperação no nível da renda e maior conhecimento de vinho, várias dessas pessoas com certeza passarão a consumir vinhos melhores. Além disso, as pessoas estão descobrindo que podem tomar uma taça de um vinho mais simples com uma frequência maior. Afinal uma “Marguerita” com uma taça de vinho é muito melhor do que com um refrigerante ou uma cerveja. Várias importadoras tradicionais, com suas bem preparadas equipes, estão trazendo vinhos de bom preço com qualidade muito boa.
Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência?
O modelo mudou, e não voltará atrás. No mundo inteiro os supermercados têm uma importante fatia do mercado, e os e-commerce são uma novidade em todo o mundo, impulsionados pela falta de tempo das pessoas, trânsito difícil e por serem facilitadores para aqueles que “temem” entrar em uma loja de vinhos. Eles vieram para ficar e as importadoras tradicionais vão ter de achar seu nicho no mercado.
Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras?
Sim, como respondido na pergunta dois.
Qual sua expectativa com 2018?
Creio que o mercado poderá continuar crescendo, mas com certeza em um ritmo menor.
Rodrigo Lanari da Winext
1) A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ?
A.) Há uma quantidade maior de brasileiros consumindo vinho. Pesquisa da Wine Intelligence identificou que nos houve um aumento de cerca de 36% na base de consumidores desde 2011 (de 22 milhões para cerca de 30 milhões de pessoas)
B.) Oferta crescente de produtos, principalmente de preço baixo, nos supermercados e e-commerce. Nunca vi tanta oferta de vinho barato como em 2017.
C.) Bebidas alcoólicas são mais resilientes às crises econômicas. Bom exemplo é os EUA que se tornou o principal mercado de vinhos após a crise de 2008. Ou seja, apesar e por causa da crise, o vinho barato cresceu (esse aumento no vinho de baixo preço ja vinha acontecendo em 2016)
D.) outro fator importante, menos numérico mas de grande impacto, é a crescente exposição do vinho nas grande mídias (por ex. Globo Repórter, carnaval, telenovelas e etc.), aliado a gourmetização do publico brasileiro em geral (masterchef, programas de gastronomia e etc.). São fatores que certamente impactam no consumo do vinho.
Por fim, vale a ressalva de que importação não significa venda. Não conheço um player mais estabelecido no mercado que tenha crescido seu faturamento próximo a este número. Fatores como sobre-estoque e aumento do numero de novos importadores tendem a inflar as estatisticas de importação. É um indicador importante mas que temos que olhar com cautela.
2) Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos?
Ambos canais têm exercido um papel fundamental na criação de novos consumidores. Além disso conseguem enorme vantagem competitiva em relação aos importadores tradicionais por aliarem escala (volume de compra) com preços competitivos na ponta.
3) O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil?
No curto-prazo podem atrapalhar, pois não há preocupação com qualidade e marca. Consumidor se vê ainda mais confuso no processo de escolha do vinho.
Mas no médio-longo prazo certamente estão ajudando a formar novos consumidores que no futuro migrarão para outras categorias.
4) Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência?
Mudou drasticamente nos ultimos 5 anos, vide a relevância do e-commerce e dos supermercados. No Brasil 1/4 dos consumidores de vinho já compram online (esse número só é maior na China) – fonte pesquisa Wine Intelligence, out 2017
O mercado de vinho como um todo ainda está em maturação. Poucas empresas são sustentáveis. Duas tendências importantes são a regionalização (empresas têm que se regionalizar para crescer, fortalecimento de players regionais) e a especialização (maior numero de especialistas nos seus respectivos canais, on e off trade).
5) Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras?
Sem dúvida. O clube de vinho tem o papel de educar novos consumidores, e abrir o leque de opções para consumidores tradicionalistas que certamente buscarão outros canais de compra.
Além disso os clubes ajudam a criar o hábito de consumo, aumentando a recorrência de compra nos demais canais.
6) Qual sua expectativa com 2018?
É um ano de muita incerteza, mas que deve trazer boas oportunidades para o mercado do vinho. Os players mais focados devem prosperar.
Rogerio D’Avila da Ravin
1) A que se deve esse crescimento forte da importação do vinho em 2017 ? Importação trocando de mãos… Internet e supermercados….
2) Como vê o crescimento de Clubes de Vinho e de Supermercados na importação direta de vinhos? Vai continuar crescendo…Não dá pra ter atravessador com esta cadeia de impostos, repasses e cambio elevado…
3) O enorme volume de vinhos simples no mercado contribuem para o consumo do vinho no Brasil? Sim, mas esse vai ser o mercado para os próximos anos…Preços médios baixos…
4) Como vê o modelo de negócio do vinho atualmente? Mudou? Qual a tendência? Distribuidores(Importadores) perdendo mercado…Se não mudar o cenário de impostos (IPI, ICMS-ST) e cambio…
5) Os clubes de vinho trarão no futuro Clientes para as boas importadoras? Sim, com certeza… Mas sempre nos vinhos de entrada… apenas 1% da população tem dinheiro pra comprar vinhos caros… Mas, desse 1% nem todos são consumidores de vinhos…Portanto mercado de merda,,, (pequeno)
6) Qual sua expectativa com 2018? Ano complicado, com tendência de estabilidade para os Importadores… A questão é muita gente para pouca coisa… (pouco mercado para muitos importadores) tem que morrer alguns… kkkkk
Vender vinho barato é caro…Armazenagem e transportes os custos são os mesmos…