Didú visita Carrau.
Dede que o Daniel Kondo, esse fantástico Ilustrador e Diretor de Arte resolveu fazer umas caricaturas minhas como se fosse Baco, tenho exercitado a não ansiedade…
É que ele resolveu fazer uma ilustração para cada bodega que visitei no Uruguay, eu sou ansioso, normalmente volto de uma viagem e não sossego antes que publique tudo da viagem, mas agora com esse compromisso que me alegra muito devo dizer, fico à espera da ilustração para escrever…
Mas como o Daniel é um criativo de mão cheia, vale a espera, aliás, você já reservou o exemplar do livro que ele ilustrou para o Luiz Horta com as melhores crônicas do Luiz em dez anos de Glupt? Eu já reservei o meu. Aqui. Imperdível.
Bem, falemos de Uruguay e falemos de Carrau. No último post de Casa Filgueira eu me esqueci de contar que ainda tinha um jantar naquela noite quando as mulheres foram a pique com o ritmo da viagem… normal, eu disse para cuspir e ninguém acredita que vida de colunista de vinho se cospe os vinhos. Dançaram.
O educado Diego Pomi Farriols da Bodega Traversa me buscou no hotel e fomos jantar com Gustavo Magariños de Wines of Uruguay, no delicioso Uruguay Natural, veja só um dos pratos…
Uma pena eu estar absolutamente entupido de vinho e comida… me sentia o ganso do Périgord… como é comum nessas viagens.
Mas não estava nocauteado o suficiente para deixar de destacar este vinho que é um dos melhores posicionamentos de mercado do Uruguay.
Custa R$ 30,00 na Mr.Man e é muito agradável. Macio, bem feito, agrada a qualquer pessoa, vinho redondo e saboroso, ótimo para um iniciante e com uma apresentação de classe.
A Traversa tem uma trajetória impressionante, começou com 1 boi e 5 hectares de vinha há 80 anos. Hoje é a bodega gigante do Uruguay com 12 milhões de litros/ ano!
Na manhã seguinte, já descansado de uma ótima noite de sono, fomos diretamente para a Bodegas Carrau que fica dentro de Montevidéu. Nicolas Neme, o simpático encarregado das vendas de Carrau na America Latina, teve a gentileza de fazer um pequeno tour pelo centro de Montevideu, afinal, o casal de amigos Eliana e Zé Maria Queiróz, não conheciam Montevideu. Nos atrasamos um pouco.
Meu amigo Javier Carrau nos recebeu com bandeira brasileira hasteada ao lado da do Uruguay. que elegância.
Os Carrau são dos mais tradicionais produtores de vinho daquele país. Veja em seu site a história da família sempre no vinho desde que em 1752 Don Francisco Carrau Vehils comprou sua primeira vinha na Cataluña, mais precisamente em Vilassar, nome hoje de um dos melhores vinhos do Uruguay, um Nebbiolo que costuma se confundir com bons Barolo em degustações às cegas.
Eu tenho grande apreço pelos Carrau pois passei uma das noites mais maravilhosas da minha vida no mundo do vinho em sua bodega de Cerro Chapeu, pertinho do Brasil. Carrau tem na verdade três bodegas, a de Montevideu, a de Cerro Chapeu e cruzando a fronteira a novíssima bodega brasileira de Cerro Trindade em Santana do Livramento. Ainda não provei desses vinhos.
Demos um recorrido na vinícola e visitamos o laboratório do Francisco, uma espécie de Professor Pardal da família Carrau. Ele é fanático estudioso e pesquisador das leveduras, sempre temos muito a conversar sobre o tema. Elé é conhecido pelos estudos dos fenômenos do metabolismo dos nutrientes do vinho e sua transformação em compostos aromáticos chave para a qualidade do vinho.
Aqui cabe dizer que eu me sinto como da família depois de uma noite em Cerro Chapeu, que prometo contar ao final da publicação de toda minha agenda no Uruguay. Eu publiquei isso na ocasião, inclusive num What’s Up, que se perdeu no tempo e no antigo blog do zip.net…, mas a Margarita Carrau, a irmã dos Carrau, me resgatou o texto de uma publicação uruguaya. Vou traduzir e republicar, prometo.
As mulheres à esta altura entenderam perfeitamente que a viagem profissional é profissional e ficaram na varanda dos Carrau descansando…
Francisco então abre a geladeira e com os olhos brilhando me mostra um saco com algo amarelado que parecia uma água barrenta. O que é isso Francisco? Perguntei. Eram leveduras que ele desenvolveu de seu próprio vinhedo para estudos. Estava eufórico. Eu queria ficar uma semana lá aprendendo com Francisco, ele sabe absolutamente tudo. Me prometeu tentar um laranja de Petit Manseng… vamos ver.
Javier então me leva para a lojinha para me mostrar a sala nova onde se encontram à venda safras antigas de seus melhores vinhos!!! Um sonho. Eu gravei isso, veja:
Carrau nos levou para a sala de recpção para mostrar um vídeo maravilhoso que você deveria ver (vídeo acima). Fomos para a degustação, já com atraso na agenda, e encontro o Francisco abrindo inúmeras garrafas…
Uma sequência incrível de vinhos deliciosos:
Carrau Chardonnay 2015 fresco, untuoso e elegante.
Dois Petit Manseng/Sauvignon Gris, o 2015 e o 2012 Espetáculo de vinho.
Malbec 2015 (Cepas Nobles) muito interessante pela sua diversidade em relação aos Malbec Argentinos, este dos Carrau é mais francês.
Uma aula sensoirial de Tannat 2015:
- Tannat Las Violetas
- Tannat Melilla (Montevideo)
- Tannat Las Violetas de masceração Controlada
Um Pinot Noir 2013 muito fino, embora um pouco estruturado demais para meu gosto.
Yesern 2007 Tannat las Violetas e Tannat Cerro Chapeu. Espetáculo de vinho e de assemblage.
Amat 2009 Duas parcelas especiais de Cerro Chapeu, um dos vinhos mais prestigiados do Uruguay, sempre citado e sempre muito bem pontuado, inclusive agora por Patricio Tapia.
Arerungua Tannat de Las Violetas (parceria com Freixenet) espetacular…
Bem, à esta altura, nossa carona que nos levaria ao Pisano já havia chegado, mas acontece que o melhor da festa estava por ser degustado, nada menos que uma garrafa da safra 1991 do 1752 J.Carrau Pujol safra 1991 !!! Tannat/Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc. ESPETACULAR!!!!!! Era um grande Bordeaux evoluído. Duvido que às cegas alguém imaginasse se tratar de um vinho do Uruguay, que todos conhecem tão pouco. Elegância e suntuosidade. Show!
Acima uma foto da garrafa atual ao lado da antiga. Uma deferiencia, uma elegância e uma prova de carinho que caracteriza os Carrau e os uruguayos. Me tratam como um amigo, que como disse o De Lucca, é mais que um irmão, pois Amigos escolhemos!… Veja abaixo os resíduos do tempo na garrafa degustada… Show.
Vejam como foi apropriada esta ilustração do Kondo…
O Javier sabe que admiro demais diversos vinhos, mas que minha predileção é por este J.Carrau Pujol, considero seu melhor vinho, um dos melhores do uruguay, superior “secondo me”ao famoso Amat e mesmo ao meu querido Villasar Nebbiolo. Entnao fez essa demonstração de generosidade apenas para me agradar, nada mais. Nada mais gostoso para mim.
À saída Javier ainda me presenteou com uma garrafa do Villasar Souzão, que eu não sabia que eles tinham. Fiquei curioso e ele me presenteou. Está descansando na adega para um momento apropriado. Grazie Amigos. Grazie Uruguay!