Sobre Aromas.
Se você está preocupado com os aromas do vinho, relaxe. Saiba que eles são importantes apenas por tres motivos:
1) Se você é um estudioso, vai fazer curso para Master Sommelier, ou para Masters of Wine (mais difícil ainda), ou coisas do gênero.
2) Se você, como eu, apenas aprecia vinhos e curte viajar nas nuances do que sente e a que lhe remetem em sua memória olfativa.
3) Se você é um expert bisbilhoteiro dos textos alheios, ou mesmo metido a expert, ou enochato, ou qualquer dessas situações ridículas em que o mundo do vinho insiste em ser o que o vinho não é.
Bem, se você está no caso tres. Vista a carapuça e deixe de ler isto, vá fazer algo que melhore sua cultura, já que seu caráter deve ser mais difícil de mudar.
Se você se encontra no caso um, devo lhe recomendar que leia muito e deguste muito sobre atento a roda de aromas.
Mas não deixe de saber também sobre a importância das leveduras indígenas e a diferença delas sobre as leveduras selecionadas, de outras partes do mundo e também as leveduras trasngênicas. Saiba sobre a influência das barricas em seus diferentes níveis de tostado e diferentes tipos de madeira, as tipicidades de cada casta, as nuances típicas de terroirs famosos, etc.
Há muita literatura sobre isso e o livro do sensacional Sommelier Enrico Bernardo, A Arte de Degustar o Vinho, é leitura fundamental “secondo me”. E o principal: treine seu olfato. Treine muito e aprenda a decidir pela primeira impressão.
Agora, se você se encontra no caso dois, você está no paraíso. Pois o melhor do vinho é certamente as nuances aromáticas. Viajar nelas carece apenas de embriagues… Sempre digo que se cheirar embriagasse eu nem beberia do vinho, tal a superioridade desse sentido em relação aos outros.
Esqueça a história da tipicidade da casta ou castas em questão. Você é apenas um enófilo como eu, nada de preocupação. Seja sincero consigo mesmo e curta a viagem. Degustar é uma viagem. Sentir aromas que te remetem aos mais inusitados aromas, que não constam de nenhuma das rodas de aromas técnicas, não quer dizer absolutamente nada.
O legal é justamente brincar com a sua memória olfativa, que é só sua e de mais ninguém. Nada mais ridículo que gente citando aromas que nunca sentiu na vida, só por que leu em algum texto que a tipicidade daquela casta tem determinado cheiro.
Na minha memória olfativa tem couro do Hudson do vovô, luva de cetim da minha mãe, gaveta da minha avó, moringa, vaso de flores velhas da casa da tia, sapateira do quarto que dividia com meu irmão, arreio de couro velho da fazenda, estrume seco de cavalo, palha do paiol, galinheiro, suor da crina do cavalo, bala de cevada da Sonksen, alecrin, tomilho, manjericão, salsinha, cebolinha, hortelã, e outras ervas da horta da minha Mãe, incenso, mocotó da geléia que a vovô fazia, marzipan que ela fazia também, galinha sapecada, sarrabulho, etc., etc., e tal, como você tem as suas.
Esqueça os comentários dos Salame. Curta o vinho para o seu prazer e ponto final. Achou um cheiro estranho? Legal, e daí? É a sua percepção e ela não está em julgamento. Saúde!