Vinho é Alimento sim. E dos bons.
Em 2006 o então governador do Rios Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), cedendo a pressões de setores radicais, vetou projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa daquele Estado, que reconhecia o Vinho como alimento.
Isso abriria um precedente importante para que o Governo Federal também reconhecesse que o Vinho é alimento o que naturalmente diminuiria em muito os tributos que pesam sobre o produto.
Na ocasião, o Dr. Jairo Monson (a quem aprendi com o Piotto a consultar sempre sobre questões científicas a respeito do consumo de vinho), médico e enófilo, estudioso do assunto, enviou uma carta ao então governador que merece ser lembrada:
“Vinho é alimento Governador Dr. Germano Rigotto
Jairo Monson de Souza Filho
jairo@monson.med.br
Vinho é alimento na Espanha, na Europa, na América e aqui. E saber isso é fácil, Governador. Basta consultar os livros-texto de nutrição. A maioria deles traz o vinho como exemplo de alimento funcional. O mesmo fazem inúmeros artigos científicos disponíveis no PubMed, Bireme ou Medline. Vinho sempre foi alimento na opinião da ciência.
E até mesmo dos leigos. Basta ver a edição de 21 de janeiro de 2002 da Revista Time que se refere ao vinho tinto como um dos 10 alimentos mais importantes para a saúde dos humanos.
Também a Revista Veja na edição 1.980, de 1º/11/2006, cita o vinho tinto como exemplo de alimento funcional.
O fato de conter álcool não exime o vinho da condição de alimento. Um jornalista, por ser jornalista, não está impedido de ser médico, advogado ou exercer outra função se preencher os requisitos para tal. Vinho é alimento e também bebida alcoólica. E como tal deve ser tratado.
O reconhecimento do vinho como alimento não o isenta das restrições atribuíveis às bebidas alcoólicas. É importante considerar isso.
Hoje o exercício da Medicina é baseado em evidências. Exclusivamente em evidências científicas. As pesquisas médicas são classificadas conforme a sua consistência.
As metanálises e os estudos clínicos randomizados duplo-cegos são os de maior nível de evidência. Hoje estudos desse tipo mostram de maneira sólida que a ingesta leve e moderada de bebidas alcoólicas diminuem a morbimortalidade geral, principalmente as de causa cardiocirculatória [as que mais matam no mundo!!], diminuem o risco de derrame cerebral isquêmico e de desenvolver diabete melito.
Mostram ainda que o vinho tem essas ações de maneira mais intensa que as outras bebidas alcoólicas. A opinião de entidade de classe ou de seus diretores e, até mesmo do Ministério Público, não é evidência científica, Governador.
Alegar que reconhecer o vinho como alimento na forma de lei incentivaria o alcoolismo é só uma suposição. Pesquisas científicas não confirmam isso.
Na cidade de Copenhague, na Dinamarca, mais de 10.000 bebedores usuais foram observados por mais de cinco anos. Neste trabalho constatou-se que os bebedores de vinho não se tornaram bebedores abusivos ou problema. Na Espanha, depois que o vinho foi reconhecido em lei como alimento, o seu consumo diminuiu 4.9%.
Estudos mostram que alcoólatras, na grande maioria, bebem álcool de outra forma que não o vinho. Bebem até mesmo o álcool combustível e o de limpeza.
A alegação de que o vinho reconhecido como alimento em lei estadual propiciaria que ele fosse incluso na merenda escolar deve ser desconsiderada, por falta de seriedade.
Não consigo imaginar que isso passe pela cabeça de alguém responsável e sério, como sabidamente é o senhor e todos de sua equipe de governo.
Não considerar vinho como alimento atende a interesses que não são os da ciência e nem da promoção de saúde.
Aceite minhas considerações e estima.”